Título: Novo duelo de ameaças
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Fonte: O Globo, 17/06/2010, O Mundo, p. 26

Irã anuncia construção de mais quatro reatores e EUA ampliam sanções unilaterais ao país

AHMADINEJAD ACENA durante sua visita a Shahrekord, cidade a pouco mais de 500 quilômetros a sudoeste de Teerã: condições para o Ocidente voltar à mesa de negociações como "uma criança educada"

TEERÃ e WASHINGTON

Desafiando a pressão internacional contra o seu programa nuclear, o Irã anunciou ontem que vai construir mais quatro reatores para pesquisa médica e punir nações pelas sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU há uma semana. Mas, já numa primeira consequência da decisão das Nações Unidas, os Estados Unidos informaram ontem que estão ampliando suas restrições ao Irã, incluindo mais indivíduos, empresas, navios e mesmo um banco à lista negra - uma medida que impede empresários americanos de negociar com quem quer que esteja ligado ao programa nuclear iraniano e que congela bens das organizações citadas em área de jurisprudência americana.

Nessa queda de braço internacional, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse que está disposto a negociar, mas que apresentará condições para isso. Ahmadinejad deixou claro que abandonar o programa nuclear está fora de questão e que desejava punir as grandes potências pelas sanções.

- Vocês mostraram mau gênio, renegaram seu compromisso e mais uma vez lançaram mão de um comportamento diabólico - disse, durante a visita a Shahrekord, cidade na província de Chahar Mahal va Bakhtiari. - Nós estabelecemos condições para que, se Deus quiser, vocês sejam um pouco punidos e se sentem à mesa de negociações como uma criança educada.

O desafio de Ahmadinejad foi reforçado pelo anúncio de que o país pretende construir mais reatores. Ontem, o chefe da agência nuclear iraniana, Ali Akbar Salehi, disse que o país está projetando um novo reator, mais poderoso do que o usado atualmente, de 1973, e que será substituído num prazo de cinco anos. Ao todo, quatro reatores em quatro cantos do país devem ser construídos. O primeiro reator iraniano para a produção de energia deve começar a funcionar este ano ou no início do próximo.

Os anúncios revelam mensagens contraditórias em resposta à quarta rodada de sanções da ONU. Ahmadinejad usa um tom desafiador, ao mesmo tempo em que afirma que a porta ao diálogo está aberta - desde que em seus termos. As grandes potências temem que o programa nuclear seja usado para produzir armas. O país já enriquece urânio em até 20% - um nível alto, embora sejam necessários 95% para fabricar uma bomba atômica.

Ontem, o governo americano ampliou a sua lista de sanções e pediu que os demais países façam o mesmo. As novas restrições anunciadas pelo Tesouro dos Estados Unidos atingem mais de três dezenas de empresas e indivíduos iranianos, que teriam ligações com o programa nuclear e balístico. Embora os EUA - diferentemente dos países europeus - tenham pouco comércio com o Irã, a decisão exclui as instituições listadas do sistema financeiro americano, dificultando a bancos de todo o mundo fazerem negócios com empresas iranianas.

Os acréscimos à lista negra americana incluem o Banco dos Correios, o 16º banco iraniano a sofrer restrições. Desde que o Sepah entrou na lista, em 2007, o Banco dos Correios assumiu suas transações internacionais de forma encoberta. As medidas do Tesouro americano também têm como alvo a Islamic Republic of Iran Shipping Lines (Irisl), a principal companhia de navegação de carga do país e que já driblou sanções antes rebatizando seus navios. Cinco empresas ligadas à Irisl entraram na lista, além de mais 90 embarcações. Outro alvo é a Guarda Revolucionária: sua força aérea e comandos de mísseis entram na lista por participarem do desenvolvimento de mísseis balísticos. Mais 22 empresas de energia e seguradoras do governo iraniano ou controladas por ele foram adicionadas.

- Nas próximas semanas vamos continuar aumentando a pressão financeira sobre o Irã - disse o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, acrescentando esperar que outros países também adotem sanções unilaterais. - Isso é algo que os EUA não podem fazer sozinhos.

UE deve anunciar as suas restrições hoje

Funcionários do governo americano informaram estar trabalhando junto com a União Europeia. O bloco concordou no início da semana em estudar sanções mais duras ao Irã e deve anunciar as suas medidas hoje. Especialistas acreditam que elas devem atingir mais duramente as áreas de petróleo e gás - que foram poupadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas em troca do apoio de Rússia e China.