Título: Investimento sustenta PIB de 3%
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 09/06/2010, Economia, p. 29

O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, pioneiro da Faculdade de Economia e Administração da USP, afirma que o país ainda tem grandes problemas a resolver, e sentencia: a atual taxa de investimento permite crescer apenas 3%.

Como o senhor viu os dados do PIB?

JOAQUIM ELÓI CIRNE DE TOLEDORealmente estamos crescendo muito forte, em níveis anualizados foi um crescimento de 11,25%, algo impressionante. Mas é certo que não temos condições de manter este patamar, que já está desacelerando. E temos que lembrar que a comparação com o ano da crise é ruim, distorce. O ideal é comparar com o resultado de agora com o PIB do primeiro trimestre de 2008. Não fiz as contas, mas creio que ela estaria em torno de 3,5% , 4%.

O crescimento do investimento resolve os gargalos?

TOLEDO:O número do crescimento impressiona no primeiro trimestre, de 26% na comparação com o mesmo período de 2009. Mas temos que analisar, na verdade, é a taxa de investimento em relação ao PIB. Voltamos agora a 18%, ainda abaixo do registrado no terceiro trimestre de 2008, quando a taxa estava em 19,2%. Mesmo com o investimento crescendo em velocidade acima da expansão do PIB, não há mágica: um investimento de 18% em relação ao PIB sustenta um crescimento de 3% ao ano.

Como o senhor vê a evolução dos gastos públicos, segundo os dados do PIB?

TOLEDO: É outro problema, o crescimento de 0,9% parece indicar que os gastos do governo estão em uma velocidade inferior ao PIB. Mas não é bem assim: o cálculo do PIB não leva em conta a correção de preços. Com isso, se o governo dobrasse os salários de todos os servidores, por exemplo, o impacto nas contas do PIB seria zero. Ou seja, só entra na conta expansão da base, como a contratação de novos servidores. O governo aumentou muito suas despesas, mas a análise dos dados pode indicar, falsamente, que são cadentes.

O consumo cairá com o aumento do endividamento das famílias?

TOLEDO: Não estamos perto do teto. O consumo cairá pela atuação do governo, reduzindo os incentivos fiscais, com o aumento dos juros e dos depósitos compulsórios pelo Banco Central, por uma depreciação cambial nos salários (valorização do real) e pelo agravamento da crise financeira na Europa.