Título: Mercado prevê que país crescerá até 8% no ano
Autor: Gomes, Wagner; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 09/06/2010, Economia, p. 30

Bancos, consultorias e Fiesp reveem estimativas de 2010 para cima, mesmo com desaceleração da atividade

Wagner Gomes, Lino Rodrigues, Ronaldo D"Ercole e Henrique Gomes Batista

SÃO PAULO e RIO. O forte desempenho da economia no primeiro trimestre, confirmado pelos números do PIB divulgados ontem, e novos indicadores de que o nível de atividade desacelerou, mas não muito, neste trimestre levaram alguns bancos e entidades empresariais a reverem para cima suas projeções do crescimento do país neste ano. Se o banco Santander elevou suas estimativas de 6,3% para 7,8%, há quem fale até em 8% de expansão, um patamar semelhante ao da Índia.

Essa é a projeção do economista do banco ABC Brasil, Felipe Wajskop França. "A despeito de uma desaceleração da atividade econômica nos próximos trimestres, graças a estabilização dos níveis de estoque, retirada dos incentivos fiscais e aperto monetário, acreditamos que o PIB no ano deva ficar entre 7,5% e 8%, já que a manutenção de níveis elevados de renda e emprego deve manter o crescimento sustentado", afirmou ele em nota.

O Departamento Econômico do Santander justificou sua revisão citando, além do crescimento acima do previsto no primeiro trimestre (de 2,7%, contra projeção de 2,5%), indicadores do trimestre corrente, como a desaceleração de 0,7% na produção industrial em abril, abaixo das expectativas.

- Houve uma desaceleração menor do que esperávamos na indústria, a renda continua em alta e o desemprego, em queda, um cenário favorável à demanda - explica Luiza Rodrigues, economista do Santander, observando que os efeitos do aperto monetário só serão sentidos efetivamente no início de 2011.

Manutenção de investimentos deve se refletir em 2011

O Bradesco errou por menos - previa alta de 2,6% do PIB frente ao trimestre anterior e de 8,6% sobre o primeiro trimestre de 2009 -, mas seu departamento econômico informou que "está avaliando" sua projeção de crescimento para o ano, hoje em 7%.

- Se houver uma revisão, certamente será para cima - disse um executivo do banco.

O Itaú, cujas projeções estavam entre as mais altas do mercado - 7,5% de expansão para este ano -, manteve inalterados seus números.

Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, também vai revisar suas projeções, "provavelmente para algo em torno de 6,5%". Mas ressaltou que, a partir de agora, o ritmo será muito menor. Ele estima que, no trimestre corrente, a economia cresça 1%.

- O Brasil não deve crescer em ritmo chinês nos próximos trimestres por causa do efeito ressaca de duráveis e pela política monetária do Banco Central - afirma Borges.

O PIB superou as estimativas da LCA, de expansão de 8% frente ao primeiro trimestre do ano passado e de 2,3% sobre o último trimestre de 2009.

- Obviamente, desaceleração não significa dizer que a economia parou de crescer num ritmo robusto, apenas que o PIB brasileiro não parece estar mais crescendo no ritmo chinês - disse Borges.

Já a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) reagiu de imediato ao crescimento chinês do primeiro trimestre e anunciou que a sua projeção para o PIB deste ano passou de 6% para 7,5%.

A Corretora Convenção também deve revisar para cima sua estimativa para o ano, de 7,1% de crescimento.

O arrefecimento da atividade econômica a partir do segundo trimestre é consenso entre economistas, mas eles concordam que isso não vai evitar que o país feche 2010 com uma das maiores taxas de crescimento em muitos anos. Roberto Padovani, economista-chefe do banco WestLB, diz que indústria já mostra acomodação em semiduráveis e duráveis, assim como no consumo das famílias. Mas ressalta que a manutenção dos investimentos deve levar a uma taxa boa de crescimento em 2011.