Título: Controle de preços entra debate eleitoral
Autor: Duarte, Patrícia; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 06/06/2010, Economia, p. 39

Analistas não acham que meta menor afetaria crescimento

BRASÍLIA. Discurso de campanha ou não, o fato é que a meta de inflação já entrou no debate eleitoral. No fim de maio, por exemplo, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defendeu uma ¿redução gradual¿ do alvo, durante encontro com investidores americanos em Nova York.

Por enquanto, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, e os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) ¿ que compõem o Conselho Monetário Nacional, o CMN ¿ não entraram de verdade na discussão.

Mas suas equipes devem levar ao encontro cenários econômicos com uma meta menor.

¿ Não conversamos nada sobre isso. O próximo presidente tem que ter liberdade para trabalhar com o cenário que achar melhor. Atravessamos o governo Lula com a mesma taxa de inflação. Tem tempo para discutir isso ¿ afirmou Paulo Bernardo.

Para o mercado, porém, seria importante o governo indicar pequenas reduções no alvo a ser perseguido, sobretudo neste ano eleitoral, para deixar claro que há preocupação com a austeridade em relações aos fundamentos da economia.

Mercado já projeta inflação de 4,5% em 2012 Para o estrategista sênior de investimentos para a América Latina do banco WestLB, Roberto Padovani, uma meta de inflação menor para 2012 ajudaria a ancorar as expectativas do mercado e conter pressões sobre os preços. Segundo ele, esse tipo de medida não implica crescimento menor: ¿ Quando você garante as condições de renda da população e reforça a estabilidade econômica de um país, isso só ajuda a atrair mais investimentos e a crescer mais.

Padovani afirma que uma meta de inflação de 4,5% ainda é alta em comparação a economias mais desenvolvidas, onde o alvo fica em torno de 2% a 3%. As avaliações são que o centro da meta poderia ser cortado aos poucos, para 4,25%, um movimento mais emblemático que prático.

Outra saída seria reduzir a margem de oscilação para, por exemplo, 1,5 ponto (hoje são 2 pontos). A economista-chefe do ING, Zeina Latif, entende que uma meta menor também ajudaria a reduzir a indexação da economia e incentivaria o país a trabalhar com juros menores: ¿ A crise global mostrou que o BC consegue segurar as expectativas de inflação.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC, concorda e defende que uma pequena redução na meta não afetará o crescimento.

Pela pesquisa Focus do BC, o mercado estima que o IPCA de 2012 ficará em 4,5%. Já há alguns anos, essa tem sido a lógica dos especialistas: prever inflação a médio prazo pelo centro da meta em vigor. (Patrícia Duarte e Martha Beck)