Título: Quem não tem dinheiro nem se arrisca
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/06/2010, O País, p. 3

Para especialistas, financiamento público pode reduzir alto custo das campanhas

BRASÍLIA. O professor Carlos Ranulfo, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que o custo das campanhas depende muito das condições de disputa eleitoral: estado, característica do candidato, nível de competitividade da campanha. Ele afirma que há estados em que um deputado consegue fazer campanha com R$ 30 mil e se eleger.

Uma questão que influencia no custo é a relação do candidato com a sociedade. Os ligados ao movimento social, sindical, a igrejas, precisam de menos recursos do que os que têm que arregimentar cabos eleitorais.

O candidato a deputado que tem votos espalhados pelo estado também terá despesas grandes para se locomover, ao contrário do que tem votos em determinados redutos.

Outro diferencial de custos está entre os candidatos que têm votos em capitais e os que têm no interior.

Para o professor Ranulfo, uma das maneiras de diminuir o custo das campanhas poderia ser a redução e modificação do formato da propaganda eleitoral gratuita, além da adoção do financiamento público das campanhas.

¿ A inflação estar baixa no país não significa dizer que os custos eleitorais não terão aumento. Ainda mais quando a campanha é acirrada.

O candidato tem que dar o máximo para cobrir todas as frentes.

Poderíamos mudar o formato da propaganda, incluindo mais debates e reduzindo o tempo no caso dos majoritários ¿ disse Ranulfo: ¿ No caso dos deputados, o que decide a eleição é o dinheiro. Quem não tem dinheiro nem se arrisca.

Cientista político duvida do impacto real da internet Especialista eleitoral e cientista politico, o professor Murilo Aragão, da Arko Advice, acredita que o valor alto da campanha presidencial esteja relacionado ao fato de a disputa se dar entre dois partidos que governam os principais cargos do país: ¿ A campanha é cara porque são duas máquinas políticas: a do PT e a do PSDB. É equilibrado porque, embora o PT tenha o governo federal, o PSDB governa em três importantes estados, com recursos e atividades econômicas muito expressivas ¿ explica Murilo Aragão. ¿ Hoje em dia as campanhas são mais sofisticadas, e a campanha para presidente irriga a de outros candidatos do partido, ajudando palanques de governadores, senadores, deputados e vice-versa.

Por isso, na opinião do cientista político, o gasto é muito maior do que o declarado pelos candidatos. Há gastos que os partidos compartilham com as campanhas de seus candidatos ao governo, de seus candidatos ao Senado e das candidaturas proporcionais (deputados federais e estaduais).

Murilo Aragão não aposta no impacto real da internet nas campanhas.

Ele acredita que isso beneficiará, principalmente, a candidatura da senadora Marina Silva (AC): ¿ A internet terá um papel, mas não impacto real nas campanhas. Apenas entre o eleitorado mais esclarecido.

Beneficiará Marina. Nas camadas mais simples, não acredito que terá.