Título: Passos cuidadosos com Chávez e Morales
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2009, Mundo, p. 20

Se para preencher os postos de embaixador em países como Brasil, México e Argentina o processo depende apenas da aprovação do Congresso dos Estados Unidos, o caso é bem mais complicado com a Venezuela e a Bolívia, de onde os representantes americanos foram expulsos pelos governos locais há nove meses. Na época, os presidentes dos dois países disseram que só voltariam a negociar a volta de embaixadores ao país quando o então presidente George W. Bush deixasse a Casa Branca.

Condição cumprida, o venezuelano Hugo Chávez chegou a conversar com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, sobre a possibilidade de normalizar as relações diplomáticas, durante a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago. O encontro propiciou um gesto de aproximação direta com o novo presidente americano: Chávez presenteou Barack Obama com um exemplar de As veias abertas da América Latina, livro do uruguaio Eduardo Galeano, um clássico sobre a exploração das riquezas naturais da região desde a chegada dos europeus, no século 15.

Depois da conversa com Hillary, Chávez afirmou à TV estatal venezuelana que estaria ¿disposto a dialogar¿ com Washington. No mesmo dia, disse que indicaria o atual representante do país na Organização dos Estados Americanos (OEA), Roy Chaderton, para a embaixada nos EUA.

No caso da Bolívia, o assunto não foi tratado de forma tão aberta, mas o subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, garantiu em maio, em visita a La Paz, que seu governo quer ¿estabelecer um novo caminho nas relações¿ com o país de Evo Morales.

¿Há uma oportunidade de Obama de reabrir os laços com a Venezuela e a Bolívia. Porém, isso depende desses países, mais do que dos EUA¿, considera a especialista em América Latina do Conselho de Relações Exteriores Shannon O¿Neil. Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, acredita que o retorno dos embaixadores à Venezuela e à Bolívia será ¿relativamente fácil¿, agora que Obama começou a relançar a política dos EUA para a região. ¿Mas todos precisam demonstrar vontade de reduzir as tensões e evitar conflitos. Acredito que o governo Obama está preparado para isso¿, afirma Hakim. (IF)

Não há dúvida de que os EUA vão olhar para seus laços com o Brasil como uma âncora para a política latino-americana. Thomas Shannon conhece bem Washington e passou quase seis meses aprendendo a trabalhar com a equipe de Obama

Ray Walser, analista da Fundação Heritage

Mudanças à vista

Aos poucos, o governo Barack Obama começará a colocar novos representantes na América Latina. Alterações fazem parte de uma aproximação diplomática gradual com a região. Confira: OEA/ARquivo

Américas

O Departamento de Estado terá um novo representante para o continente. Assim que sair Thomas Shannon, no cargo desde outubro de 2005, assumirá o posto de subsecretário para Assuntos Hemisféricos o acadêmico chileno-americano Arturo Valenzuela (foto). Especialista em América Latina, ele foi nomeado, em 1992, subsecretário adjunto para Assuntos Interamericanos pelo então presidente Bill Clinton.

Brasil

Em breve, o Brasil terá um novo embaixador norte-americano. Quem ocupará o posto é o atual subsecretário de Assuntos Hemisféricos, Thomas Shannon, o número 1 do Departamento de Estado para as Américas. Shannon é diplomata de carreira e trabalhou no Brasil entre 1989 e 1992, como assessor especial do embaixador, onde aprendeu a falar fluentemente o português. Ele entrará no lugar de Clifford Sobel, empresário que foi nomeado por George W. Bush em maio de 2006.

Venezuela

Desde setembro de 2008, quando o presidente Hugo Chávez expulsou o embaixador de Washington em Caracas, Patrick Duddy, a representação americana no país é conduzida pelo encarregado de negócios, John Caulfield. A medida foi em solidariedade à Bolívia, mas Chávez acusou Duddy de estar por trás de um plano de golpe de Estado planejado por oficiais das Forças Armadas venezuelanas.

Joao Padua/AP - 12/5/09

Bolívia

A embaixada dos EUA em La Paz é comandada pelo encarregado de negócios Krishna Urs desde que o embaixador Philip Goldberg (foto) foi expulso do país por Evo Morales. O presidente boliviano acusou o diplomata de promover junto à oposição os protestos contra seu governo. Em maio deste ano, o subsecretário para Assuntos Hemisféricos, Thomas Shannon, visitou a Bolívia e os dois lados demonstraram um desejo de reaproximação. Não há previsão para um novo embaixador.

Arquivo

México

Um diplomata nascido no México assumirá em breve a embaixada americana no país. Carlos Pascual (foto), diretor do centro de pesquisas em política externa da Brookings Institution, trabalhou por 23 anos para o governo norte-americano e ocupou postos no Conselho de Segurança Nacional e na Agência para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Pascual substituirá o advogado e filho de imigrantes mexicanos Antonio Oscar Garza, que deixou a embaixada no dia da posse de Obama.

Argentina

A embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires também passará por mudanças. No lugar de Earl Anthony Wayne, que está no país desde 2006, deve entrar a advogada e ativista dos direitos civis Vilma Martinez. Por nove anos, ela dirigiu o Fundo Mexicano-Americano de Defesa Legal e Educação (Maldef) e lecionou na Columbia Law School. Wayne deixa o país depois de dois incidentes diplomáticos envolvendo os EUA e a Argentina.