Título: Aperto na indústria petrolífera
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 19/06/2010, Economia, p. 27

Após acidente nos EUA, a ANP diz que pode adotar novas medidas para exploração no Brasil

RIO, LONDRES e VANCOUVER

O Brasil poderá tornar mais rígidos seus sistemas de segurança nas atividades de exploração e produção de petróleo em função do vazamento, que já dura dois meses, em um dos poços da BP no Golfo do México. O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, disse ontem que, apesar de os sistemas de segurança adotados no Brasil, e sua fiscalização, serem bastante rígidos, novas metodologias poderão ser adotadas, caso seja necessário. Lima acredita que o acidente deverá provocar o que ele chama de enrijecimento dos critérios de segurança usados pela indústria petrolífera mundial: ¿ Acho que os critérios de segurança e a fiscalização que fazemos são de bom nível. De qualquer forma, o que aconteceu no Golfo do México merece que nos dediquemos de novo à questão para, se for o caso, tornarmos ainda mais rígidos os nossos critérios.

Estados Unidos e Canadá já suspenderam ¿ ainda que temporariamente ¿ a exploração de petróleo no Oceano Ártico, visto como a próxima fronteira das petrolíferas. Os dois países, bem como Noruega e Rússia, também estudam regras mais rígidas para perfuração em alto mar. Só a Groenlândia, ressaltou semana passada a revista britânica ¿Economist¿, vem pressionando pela liberação das águas do Ártico para exploração.

O vazamento no Golfo do México pode mudar os rumos da exploração em alto mar. Em entrevista ao jornal ¿Vancouver Sun¿, o economista e especialista em petróleo Jeff Rubin questionou se, após o acidente da BP, algum país estará disposto a enfrentar os custos econômicos e ambientais de um vazamento. ¿E alguma petrolífera vai se arriscar a assumir o passivo que os acionistas da BP terão de pagar?¿, pergunta.

ANP analisa sistemas de segurança

Lima defende aumentar a fiscalização, principalmente nas atividades exploratórias, ou seja, quando os poços são perfurados. A ANP está neste momento analisando a documentação enviada por todas as petrolíferas que atuam no Brasil sobre seus sistemas de segurança, atendendo a uma exigência do órgão regulador. As normas de segurança a serem adotadas pelas concessionárias no Brasil estão previstas na resolução ANP 43, de 1998.

¿ Achamos que devemos intensificar a fiscalização das atividades exploratórias. E para isso teremos de aumentar o pessoal dessa área ¿ afirmou Lima.

Na ANP, o grupo coordenador de segurança operacional tem apenas dez pessoas de nível superior, responsáveis pela fiscalização tanto nas plataformas de exploração como nas de produção. Lima disse que são feitas em média, oito fiscalizações mensais em sistemas de exploração, com o apoio de técnicos do Bureau Veritas.

Estão nos EUA acompanhando os trabalhos da BP para conter o vazamento a diretora da ANP Magda Chambriard e o coordenador de segurança operacional, Raphael Moura.

Uma alta fonte da Petrobras disse que ainda é cedo para avaliar os impactos do acidente nas atividades da estatal. Alguns procedimentos operacionais poderão ser mudados, mas, segundo a fonte, os técnicos da Petrobras não acreditam que isso poderá elevar os custos da exploração em águas profundas, como nos campos do pré-sal, uma vez que as medidas de segurança já são bastante rigorosas.

Mas um efeito é visível: a ANP vai levar em conta o vazamento na análise da compra dos ativos da americana Devon no Brasil pela BP. Segundo Lima, é impossível o órgão não considerar a atuação da companhia em outras regiões para aprovação ou não do negócio: ¿ Seguramente não vamos fazer uma análise (da compra dos ativos no Brasil) como se nada estivesse acontecendo no Golfo do México.

A BP comprou ativos da Devon em vários países. No Brasil foram dez blocos, principalmente na Bacia de Campos, no Rio, e em Barreirinhas e Parnaíba (Maranhão/Piauí). Em um dos blocos em Campos está o campo de Polvo, com uma produção diária de 16 mil barris por dia de petróleo, que poderá ser assumido pela BP.

Técnicos e especialistas afirmam que os sistemas de segurança e a fiscalização no Brasil e na Noruega são mais rígidos do que os adotados nos EUA. No Brasil, por exemplo, segundo o advogado especialista em petróleo e gás Marcos Macedo, do escritório Heller Redo Barroso Advogados, a Petrobras usa, além do blow out prevent (BOP, que fecha o poço automaticamente em caso de escapamento descontrolado de óleo e gás), um sistema adicional de trava automática da coluna de perfuração em cada poço. Nos EUA, a BP tem apenas um BOP em cada poço. E nas operações da Petrobras, se tanto o BOP como o sistema de trava falharem, o operador na plataforma pode remotamente acionar uma segunda trava no BOP que não é automática.