Título: A continuidade da mudança
Autor: Damé, Luiza ; Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 14/06/2010, O País, p. 3

Ao oficializar a candidatura ao Planalto, Dilma destaca seu vínculo com Lula

Com o peso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palco, no jingle e nos discursos, o PT homologou ontem a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República na coligação batizada de "Para o Brasil seguir mudando", com Michel Temer, do PMDB, para a vice e o apoio de mais quatro partidos: PDT, PSB, PCdoB e PR. O PRB deve formalizar a aliança no próximo dia 26. A festa petista estampou o lema da "continuidade da mudança", além de esbanjar euforia, otimismo e ataques aos adversários tucanos. A presidenciável anunciou que "chegou a hora de uma mulher comandar o país". Lula, empolgado, disse que a chance de vitória é "quase absoluta".

A convenção do PT, que teve como tema a mulher, homenageou heroínas do passado e personalidades atuais - conferindo à campanha de Dilma um status de "marco histórico".

- Não é por acaso que, depois desse grande homem, o nosso Brasil possa ser governado por uma mulher. Por uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas que fará um Brasil de Lula com alma e coração de mulher. Lula mudou o Brasil e o Brasil quer seguir mudando. A continuidade que o Brasil deseja é a continuidade da mudança - disse Dilma, maquiada e bem penteada, de blazer vermelho e pérolas.

Quando os principais convidados estavam na mesa, Dilma desceu sozinha uma escadaria sob holofotes até o palco. Leu um discurso de 50 minutos e citou Lula mais de 20 vezes. Em poucos momentos, empolgou a plateia, que antes vibrou com Lula no palco.

O presidente alertou que "não existe eleição fácil", e estimulou a militância a trabalhar 24 horas por dia:

- Estou convencido de que as possibilidades de ganhar as eleições são totais, eu diria quase que absolutas. Mas, eleição e mineração, a gente só conhece o resultado depois da apuração.

A estreia do jingle da campanha

Para mostrar a ligação entre os dois, Lula frisou que votar em Dilma significa votar em Lula, nome que estará ausente das "cédulas" eleitorais após cinco corridas presidenciais.

- Vai haver um vazio naquela cédula e, para que esse vazio seja preenchido, mudei de nome e vou colocar Dilma na cédula. E aí as pessoas vão votar - apostou Lula.

O auditório do Unique Palace, um espaço de festa para casamentos e shows, estava lotado com cerca de 1.500 militantes. A festa seguiu o roteiro idealizado pelo marqueteiro João Santana, que estreou o jingle: "Lula tá com ela, eu também tô". O presidente foi o astro do evento, no qual também discursaram o presidente do PT, José Eduardo Dutra, com forte ataques aos tucanos, e Michel Temer, em curta participação de cinco minutos.

- Durante o governo do presidente Lula, começamos a construir um novo Brasil. Esta é a obra que quero continuar. Com a clara consciência de que continuar não é repetir. É avançar - ressaltou Dilma.

Sobre a coalizão feita com sacrifícios de candidaturas petistas nos estados, ela ponderou:

- Da mesma forma que foi preciso somar forças para conquistar a democracia no passado, é preciso somar forças hoje para alargar ainda mais o caminho aberto pelo presidente Lula.

A coalizão foi prestigiada por líderes partidários, incluindo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O vice-presidente do PP, Mário Negromonte, foi chamado no meio da convenção, apesar de a sigla permanecer indefinida e assediada pelos tucanos. Estavam presentes sete governadores e diversos ministros, deputados e senadores.

Dilma apresentou uma longa lista de intenções, todas propostas já anunciadas na pré-campanha. E tentou demonstrar ser uma política hábil, apesar de estreante nas urnas.

- Sei como buscar união de forças e não a divisão estéril. Sei como estimular o debate político sério e não o envenenamento que não serve a ninguém - acrescentou a candidata.

Aos tucanos, ela fez críticas veladas. Afirmou que governos anteriores excluíram dois terços da população, que consideravam ser um "estorvo". Ao discursar, Lula contou o tempo que resta até a eleição: três meses e 20 dias. Em tom de despedida, anunciou que desce a rampa do Planalto daqui a seis meses e 18 dias:

- No dia 1º de janeiro, depois de passar a faixa para a companheira Dilma, eu, o Zé Alencar e as duas Marisas desceremos a rampa do Palácio, por onde subimos, de cabeça erguida, com o sentimento de dever cumprido.