Título: Música, risos e vaias na festa da presidenta
Autor: Suwwam, Leila ; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 14/06/2010, O País, p. 4

Jingle associando a candidata à palavra "coroa" gera protesto de militantes do movimento de mulheres

DILMA ROUSSEFF discursa no Unique Palace, onde oficializou sua candidatura, sendo comparada a personalidades da História

BRASÍLIA. Uma festa para as militantes e ativistas do PT. Assim foi a convenção no Unique Palace, em Brasília, que oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República, com plateia predominantemente feminina. No salão, o pôster de Dilma aparecia ao lado de personalidades da História, como Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga e Princesa Izabel. "Elas mudaram o Brasil. Dilma vai seguir mudando", diziam os cartazes. Dilma, como eventual futura presidente, era posta no mesmo patamar dessas figuras. Mas a grande estrela continuou sendo Lula, que discursou como um animador de auditório.

Ligadas a um movimento de mulheres, as militantes vaiaram um dos jingles do partido, que referia-se a Lula como o "cara" e Dilma a "coroa". A implicância era com a expressão "coroa". Apontaram o dedão para baixo, em sinal de negativo e a música não foi executada mais nas caixas de som.

Outra exigência da militância feminina era que Dilma fosse chamada de "presidenta" e não de "presidente". A apresentadora oficial do evento, a atriz Tássia Camargo, tentou contemporizar:

- Tanto faz, gente! - disse Tássia, mas as militantes não cederam.

Lula a tratou como "presidenta", mas Dilma optou por "presidente" em seus discursos. O encontro começou com quase uma hora de atraso. Enquanto a militância entoava jingles , Dilma, Lula, assessores e companheiros petistas como Antonio Palocci e José Dirceu ficaram numa sala vip. Mas quem acompanhou Dilma até o palanque foi Palocci. Aliados, como Renan Calheiros, José Sarney e Roseana Sarney, também dividiram o espaço vip com Lula e Dilma.

O vermelho tradicional do PT sumiu do material de campanha. O "kit Dilma" distribuído aos congressistas tinha uma bandeira, bottons e outros materiais de propaganda com as cores verde, amarelo, azul e branco, da bandeira nacional. Entre tantos políticos conhecidos da militância, quem fez sucesso mesmo foi o ex-treinador da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, que hoje treina o Atlético Mineiro. Recém- filiado ao PT, Luxemburgo, abordado para autógrafos e fotos, gravou mensagens para o programa do partido e foi citado por Lula.

- Dilma, temos que montar uma boa equipe. Podemos aproveitar a presença do Luxemburgo, que sabe como escalar o lateral direito, o lateral esquerdo e até o banco de reservas - disse Lula.

Luxemburgo tentou sair candidato a deputado federal por Tocantins, mas a Justiça Eleitoral vetou por problemas de domicílio eleitoral.

Na área externa do salão, uma barraquinha vendia DVDs piratas de filmes e documentários de cunho político. Até o ministro Samuel Pinheiro Guimarães, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), comprou quatro unidades, um deles sobre a vida de Tróstki, revolucionário bolchevique, fundador do Exército Vermelho da extinta União Soviética. O vendedor disse que seus DVDs não eram piratas e sim filmes "intelectuais, para abrir a cabeça das pessoas".

Candidatos petistas aproveitavam a presença de ministros e outras autoridades para tirarem fotos e fazer gravações para usar na campanha eleitoral. Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), levou uma equipe de filmagem e teve acesso à sala vip.

No seu discurso improvisado, Lula levou a plateia dar risadas, dizendo que, desde a volta das eleições diretas para presidente, a partir de 1989, ele disputou todos os pleitos.

- Este ano, vai ter um vazio na cédula (sic) sem meu nome lá.

Sentado na mesa principal, no palco, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi vaiado por alguns militantes quando teve seu nome citado pelo locutor. (Evandro Éboli e Regina Alvarez)