Título: Lula indica que pode usar alternativa
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/06/2010, O País, p. 3

Ele diz que fará "o que for melhor para o Brasil"; plateia gritava "Dilma" em evento

QUELUZITO, UBERABA e UBERLÂNDIA (MG). O presidente Lula disse ontem que já tomou sua decisão em relação ao aumento de 7,72% para aposentados e pensionistas que ganham acima de um salário mínimo e ao fim do fator previdenciário, apesar de ainda ter reunião para tratar do assunto hoje com parte de seu Ministério.

Lula não quis adiantar sua decisão. Disse que fará o anúncio hoje, último dia para sancionar ou vetar o projeto. Declarou que sua decisão é a "melhor para todo mundo" e não foi baseada em "extravagâncias" de período eleitoral.

- Eu não vou estragar a minha relação com os aposentados, não vou estragar a minha relação com ninguém, porque a minha vida é exatamente a relação que eu tenho com o povo trabalhador deste país. Estamos vivendo um momento tão bom, que eu vou fazer aquilo que eu tiver que fazer, aquilo que for melhor para o Brasil e aquilo que for melhor para todo mundo - disse, após inaugurar o Gasbel II, gasoduto que liga o município mineiro a Volta Redonda (RJ).

"Não me deixarei seduzir por qualquer extravagância"

A proximidade das eleições não vai influenciar sua decisão, afirmou Lula:

- Não pensem que me deixarei seduzir por qualquer extravagância que alguém queira fazer por conta do processo eleitoral. A eleição é uma coisa passageira, e o Brasil não jogará fora no século XXI as oportunidades que ele jogou fora no século XX. Enquanto eu for presidente, ele não jogará fora. Estou tranquilo em relação à posição que temos de tomar. Todo mundo sabe o carinho que tenho pelos aposentados brasileiros e a relação que tenho com os trabalhadores. Vou fazer aquilo que eu achar que é melhor para o Brasil e para os aposentados.

O texto aprovado pelo Congresso reajusta as aposentadorias acima do negociado pelo governo com entidades de classe (6,14%), e põe fim ao fator previdenciário, que reduz o valor dos benefícios.

Em Uberlândia, no palanque montado para a inauguração do anel rodoviário da cidade e outras obras na região, orçadas em R$2,7 bilhões, Lula reforçou ontem a estratégia da campanha de Dilma Rousseff de comparar o governo petista com a gestão do ex-presidente Fernando Henrique. Num discurso transmitido em telões para palanques montados em três outras cidades, Lula traçou um quadro para mostrar que o volume de crédito e investimentos em seu governo é superior ao de FHC. Segundo ele, o país não está mais encalacrado em dívidas ou crises.

- Quando assumimos o governo, tínhamos apenas R$1 bilhão para fazer obras (rodoviárias) em todo o território nacional. Hoje, estamos anunciando R$2,7 bilhões apenas para uma pequena parte do território de Minas Gerais - disse Lula, no início de seu discurso.

O presidente voltou a afirmar que, após o ex-presidente Ernesto Geisel (1975-1980), ele foi o único presidente a fazer maciços investimentos em infraestrutura. Segundo ele, os outros antecessores nada puderam fazer porque o país estava atolado em dívidas e não tinha recursos para tocar grandes obras. Lula centrou as comparações críticas no governo de Fernando Henrique.

Lula disse que, em 2002, antes de assumir o governo, o país tinha R$380 bilhões em crédito. Hoje, o volume de recursos emprestados chega a R$1,5 trilhão. No último ano do governo Fernando Henrique, disse, o Banco do Nordeste emprestou R$262 milhões. Este ano, segundo dados citados por Lula, a carteira de crédito do banco já bateu R$22 bilhões. A plateia, formada em boa parte por pessoas com camisas de PT e PCdoB, gritava em coro "Dilma". Multado cinco vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral por campanha antecipada, Lula evitou citar o nome da candidata. Dois militantes levantaram bandeirinhas com a inscrição "Dilma presidente". Mas Lula se conteve:

- Não posso falar de campanha, nem de candidato.

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