Título: Não sabem investigar. O inquérito é malfeito
Autor: Maltchik, Roberto ; Carvalho, Jaiton de
Fonte: O Globo, 15/06/2010, O País, p. 11

Delegado confirma amizade com Paulo Li, mas diz que saiu por interesses políticos

Amargurado e contabilizando mais de uma dezenas de ações que pretende apresentar contra quem julga ter feito "jogo sujo" para tirá-lo do cargo na Secretaria de Justiça, Romeu Tuma Júnior recebeu O GLOBO ontem por 40 minutos, pouco antes de deixar o gabinete pela última vez. Fumando um cigarro atrás do outro, ainda chamava o chinês Li Kwok Kwen, preso por contrabando pela Polícia Federal, de "Paulinho", e afirmou que o caso ainda não acabou.

Roberto Maltchik

Por que o senhor não pediu demissão, apesar do escândalo?

TUMA JÚNIOR: Nenhuma das pessoas com quem eu mantive contato, quer sejam meus superiores, quer sejam meus subordinados, disseram que eu não era inocente, que cometi crime, que cometi irregularidade. Se meus superiores dizem isso e afirmam que não houve quebra de confiança, eu não poderia me curvar a uma injustiça.

Então, por que o senhor foi demitido?

TUMA JÚNIOR: Disseram que tinha um problema político. Foi um julgamento político.

O senhor disse que queriam atingir o seu pai (senador Romeu Tuma). Por quê?

TUMA JÚNIOR: O alvo era ele e eu. Juntou interesses. A minha atuação como secretário, os interesses que eu estava combatendo. A própria ascensão minha ao Conselho Nacional de Combate à Pirataria e do meu pai, que é um candidato forte. É a sucessão em São Paulo.

Mas e a sua ligação com o Paulo Li?

TUMA JR: Ele deve ter cometido delito e eu quero que ele responda por isso. É um amigo que não podia quebrar a confiança. Ele fez quatro pedidos, três deles negados. É uma liberação! Eu também atendi pedidos de várias autoridades do Judiciário.

O senhor já leu o inquérito no qual aparece em gravações com o Paulo Li?

TUMA JÚNIOR: Recebi quinta-feira. Já li bastante coisa, mas ainda não li tudo.

Como o senhor avaliou o trabalho?

TUMA JÚNIOR: Eles não sabem investigar. Esse inquérito está malfeito. Tem uma série de elementos que não têm nenhuma fundamentação jurídica.

Pela manhã, o senhor chegou a dizer, em entrevistas, que houve tortura na investigação. Por que o senhor disse isso? O Paulo Li foi torturado, na sua opinião?

TUMA JUNIOR: Isso é muito grave. Eu vou provar que sou inocente. Isso é uma aberração jurídica, uma orquestração criminosa, uma violência política. Eu não vou dar pista para eles (setores da PF de São Paulo).

O Paulo Li foi torturado?

TUMA JÚNIOR: Parece que sim. Vamos ver aí.

O senhor vai para o ataque, fora do governo?

TUMA JÚNIOR: Eu vou me defender. Vou mostrar tudo com transparência. Eu sou policial. As pessoas têm que saber o que está nesse inquérito.