Título: No último dia na secretaria, espera pela nota sobre demissão
Autor: Maltchik, Roberto ; Carvalho, Jaiton de
Fonte: O Globo, 15/06/2010, O País, p. 11

Assessoria evita fotos e filmagens de quem foi se despedir de delegado

BRASÍLIA. Ainda secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior chegou às 7h30m para o que seria seu último dia de trabalho no gabinete do 4º andar do Ministério da Justiça. Já sabia que, nas próximas horas, o governo anunciaria o fim da trajetória dele à frente do órgão, que assumiu em setembro de 2007. Avisado da demissão na noite de domingo, Tuma Jr. passou a maior parte do tempo reclamando contra o que chamou de "injustiça" e "armação".

Depois que o Ministério da Justiça divulgou nota no final da manhã, confirmando sua saída, Tuma Jr. deu uma breve declaração à imprensa para garantir que não tinha pedido para sair.

- Como vou pedir para sair se não fiz nada de errado?

Após o almoço no próprio gabinete, o secretário passou a contabilizar mensagens de apoio de amigos e subordinados. Muitas delas chegaram pelo telefone de cor dourada, sempre ao lado do maço de cigarro, na sua mesa. Outras foram transmitidas pessoalmente. No começo da tarde, um grande número de funcionários do ministério começou a se espremer na antessala do gabinete. A confusão foi tão grande que a assessoria se mobilizou para evitar fotos e filmagens dos seus apoiadores.

Os funcionários, então, se aglomeraram numa pequena sala a poucos metros de distância. De lá, seguiram por um corredor privado até o gabinete, onde prestaram solidariedade.

- Tinha muita gente lá, umas 50 pessoas. Nós demos uma passadinha, mas não queríamos atrapalhar - disse o secretário-executivo do ministério, Rafael Favetti.

Em seguida, Tuma Jr. divulgou uma nota, mais uma vez negando que tivesse cometido qualquer irregularidade. Pela primeira vez, concentrou fogo contra o governo, ao afirmar que estava de saída também pela "covardia política" de colegas que, segundo ele, negaram-se em defendê-lo no momento certo.

O secretário avalia que o sucessor assumirá um órgão bem estruturado. Sobre o futuro, limita-se a falar na defesa da honra:

- Vou me defender. Fiquei decepcionado com o governo. O governo tinha que me defender. Sobre o resto, ainda não sei o que vou fazer. (Roberto Maltchik).