Título: Estudo mostra que só 1% das creches são boas
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 15/06/2010, O País, p. 12

Pesquisa em 6 capitais apontou deficiências, como professores desqualificados e crianças com muito tempo ocioso

SÃO PAULO. As creches e as pré-escolas brasileiras foram reprovadas. Pesquisa divulgada ontem pela Fundação Carlos Chagas revelou que 86,9% das creches e 72,4% das pré-escolas obtêm menos de 5 pontos numa escala de 1 a 10, garantindo apenas o "básico" ou nem isso para atender as crianças.

A pesquisa, coordenada pela especialista Maria Malta Campos, acompanhou no ano passado 147 unidades infantis em seis capitais: Rio, Belém, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza e Teresina, constatando que, além da falta de vagas, o serviço tem deficiências como falta de material escolar, má qualificação dos professores e o tempo que as crianças ficam ociosas, sendo obrigadas a dormir, ficar deitadas nos bercinhos ou mesmo agrupadas sem privacidade:

- A criança passa longos períodos ociosos, essa é uma questão que merece ser melhorada. Outra questão importante é a formação dos professores: as faculdades estão preparadas para formar professores do ensino fundamental e médio; é preciso ver especialmente a educação infantil, que é diferente.

Com nota de 1 a 3, 49,5% das creches foram qualificadas como inadequadas. Com notas entre 3 e 5, 37,4% foram classificadas como básicas, ou seja, unidades que têm o mínimo para funcionar. Só 12,1% tiveram nota entre 5 e 7 pontos, sendo consideradas adequadas, enquanto 1,1% foram consideradas boas, com nota entre 7 e 8,5. A situação na pré-escola é um pouco melhor, com 30,4% das unidades inadequadas, 42% básicas, 23,9% adequadas e 3,6% boas. Nenhuma foi considerada excelente, com nota superior a 8,5 pontos.

- Nos últimos 16 anos, temos visto políticas consistentes de educação no Brasil, mas atingir a meta de pôr todas as crianças na pré-escola até 2016, conforme diz a Constituição, é um desafio tão grande que, se não tiver ação entre União, estados e municípios, será difícil de vencer - disse Marcelo Perez, coordenador de educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, um dos realizadores da pesquisa, com o MEC.

A pesquisa foi apresentada em um seminário internacional sobre o tema. Para especialistas presentes, os maiores desafios do próximo governo, além de cumprir a meta de oferecer as vagas, é dar qualidade e melhorar a formação dos professores.

- É preciso melhorar não só a qualidade da educação infantil, mas a transição da educação infantil para o ensino fundamental, com ênfase nos professores e nos gestores - apontou Sonia Kramer, da PUC-Rio.

Para Catarina Moro, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o governo deverá lidar com o aumento de vagas sem prescindir da qualidade:

- Infelizmente, para ampliar o atendimento, houve um custo, que foi a redução do período integral para quatro horas. Isso precisa ser revisto.

A secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, disse que o governo planeja a construção de 1,8 mil escolas de educação infantil este ano, com investimentos de R$1,8 bilhão nos municípios. Segundo ela, há 90 mil unidades atendendo crianças no país, mas um dos problemas está na transição das creches, que pertenciam às secretarias de Assistência Social e foram repassadas à Educação.