Título: Mantega agora afirma que é possível dar o reajuste, mas avisa: Vai doer
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/06/2010, O País, p. 4

Ministro diz que haverá corte de emendas parlamentares e redução de custeio

BRASÍLIA. Derrotado dentro do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi o porta-voz da decisão do presidente Lula de sancionar o reajuste de 7,7% para os aposentados que ganham acima do salário mínimo, aprovado pelo Congresso. Num contraste com suas declarações anteriores, Mantega disse que a nova despesa "vai doer", mas que o governo tem condições de arcar com o custo adicional de R$1,6 bilhão. E afirmou que o resultado fiscal e o equilíbrio das contas públicas serão mantidos.

No início da reunião com ministros da área econômica e da coordenação de governo, no CCBB, o presidente quis saber de Mantega se as contas tinham condições de suportar o aumento. A resposta do ministro foi positiva - ao contrário do que ele dizia até semana passada.

- O presidente nos autorizou a fazer um novo corte, inclusive com custeio e em emendas parlamentares, de modo que vamos garantir o equilíbrio fiscal, a solidez das contas públicas e a obtenção do superávit primário. Isso é sagrado e será mantido - disse Mantega, ao final da reunião. - A medida se equilibra. Vamos conseguir satisfazer os aposentados, porque já foi criada uma expectativa muito grande para eles. E, então, o presidente resolveu atender, desde que isso não comprometesse as contas públicas.

Ao citar o corte de emendas como forma de compensar os novos gastos, Mantega negou que seja uma retaliação aos parlamentares que aprovaram o aumento. Essa medida tem efeito retórico: na prática, as emendas não vêm sendo pagas no ritmo desejado por deputados e senadores. O ritmo de liberação dessas emendas só deve aumentar após as eleições.

Com o R$1,6 bilhão a serem cortados por causa do reajuste de 7,7% para aposentados, o total de cortes no Orçamento chega a R$31 bilhões. Esses cortes foram anunciados em etapas, ao longo deste ano.

- Vai doer, porque já cortamos R$10 bilhões (o segundo corte anunciado), que fazem falta em alguns ministérios. Será um sacrifício adicional, mas temos condições e é importante que cumpramos as metas fiscais - disse Mantega.

Mantega fez o anúncio do índice de reajuste ao lado do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que também defendia o veto até ontem.