Título: Colômbia avaliza política de Uribe
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Fonte: O Globo, 20/06/2010, Opinião, p. 6

Os eleitores colombianos votam hoje no segundo turno das eleições presidenciais e o país tem tudo para sair ganhando. O resultado parece a salvo de surpresas: já no primeiro turno, a votação recebida pelo uribista Juan Manuel Santos foi quase suficiente para ele ganhar.

Desde então, os principais partidos, como o Conservador e o Liberal, deram seu apoio ao Partido da U, de Santos (e de Uribe).

E a maior parte do eleitorado parece ter-se convencido de que a melhor opção é o ex-ministro da Defesa, que também já ocupou os ministérios da Fazenda e do Comércio Exterior.

As pesquisas, que inicialmente inflaram a expectativa em torno do candidato oposicionista Antanas Mockus, do Partido Verde ¿ e erraram, por não aferir cidades do interior ¿ apontam agora ampla vantagem de Santos, com 60% das intenções de voto.

O processo eleitoral transcorreu normalmente porque as instituições funcionaram a contento. A Justiça barrou a pretensão de Uribe de concorrer a um terceiro mandato, apoiado em sua elevada popularidade.

O país escapa assim do vírus do continuísmo, o que concorre para fortalecer a democracia e a estabilidade da Colômbia, imprensada entre dois governos do chamado ¿socialismo bolivariano¿ (Venezuela e Equador). O favoritismo de Santos decorre da política vitoriosa de Uribe na área da segurança e na linha-dura contra as Farc que transformou um país sitiado pela guerra civil numa nação viável, em que a guerrilha foi empurrada para rincões distantes. Santos se credencia por ter sido, como ministro da Defesa, o comandante dessa ação. Ele sabe que os colombianos estão mais preocupados com a economia e acena com a criação de 2,5 milhões de empregos.

Seu adversário, apesar das chances remotas de ganhar, pode se considerar vitorioso por criar uma nova vertente na política colombiana. Independente, fez uma elogiada administração na prefeitura de Bogotá, resgatando os valores da cidadania e melhorando o astral dos habitantes da capital com ideias inovadoras.

Foi semelhante a trajetória do candidato a vice-presidente em sua chapa, o ex-prefeito de Medellín Sérgio Fajardo. Para concorrer à presidência, Mockus aceitou o convite do Partido Verde colombiano, que tem características próprias e posições próximas à centro-direita.

Mockus, em Bogotá, e Fajardo, em Medellín, foram beneficiados pela política de segurança de Uribe, apoiada com milhões de dólares dos EUA, que permitiu reduzir os assassinatos, os massacres, os sequestros, os ataques a aldeias e à infraestrutura do país, rotineiramente praticados pelas Farc. Mas a Colômbia continua sendo o maior produtor mundial de cocaína.

Se sair vencedor, Santos terá a oportunidade de aprimorar os acertos de Uribe e de evitar erros como os que deram origem a acusações de corrupção e aos escândalos da ¿parapolítica¿ (políticos, inclusive ligados ao governo, que recebiam dinheiro do narcotráfico) e dos ¿falsos positivos¿ (civis mortos e computados como guerrilheiros). Um dos grandes desafios do favorito é normalizar as relações com a Venezuela, abaladas pela rivalidade entre Chávez e Uribe. Os dois países são importantes um para o outro para se deixarem afastar por questões ideológicas.