Título: Único autor sobrevivente do Código Florestal critica proposta de revisão
Autor: Tulio Brandão
Fonte: O Globo, 20/06/2010, Rio, p. 23

Especialista de 85 anos luta há meio século pela preservação das matas

Uma parte preciosa da história do Código Florestal, que foi sancionado em 1965 e agora está ameaçado de ser revisto pelo Congresso Nacional, passa as tardes de modo discreto numa pequena sala na Avenida Venezuela, no Centro do Rio, onde funciona o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Único ainda vivo entre os seis especialistas chamados nos anos 60 para escrever a lei que fundamentou as questões ambientais no país, o engenheiro agrônomo Alceo Magnanini reconhece as limitações físicas da idade, mas fala como um garoto apaixonado em defesa da legislação que ajudou a criar.

¿ Mudar a lei (como alguns deputados querem) é como colocar as raposas dentro do galinheiro. Isso não é democracia, é dirigismo. A gente tem que pensar um pouquinho no futuro ¿ diz Magnanini, de 85 anos.

Magnanini tinha 30 e poucos anos quando foi convidado pelo desembargador Osni Duarte Pereira, autor de ¿O Direito Florestal Brasileiro¿, uma das primeiras publicações sobre legislação ambiental do país.

¿ O país já tinha um código florestal, sancionado por Getúlio Vargas em 1934. Mas era tão frágil que, em 30 anos, só se tem registro de um despacho em que a lei foi aplicada.

O velho código tinha várias subdivisões de florestas: Osni decidiu mudar o conceito, e disse: ¿agora, só podem existir dois tipos de floresta: as que podem e as que não podem ser cortadas¿.

Se o atual Código Florestal virar apenas um livro empoeirado numa estante de livros jurídicos desatualizados, Magnanini já garantiu seu lugar na posteridade. Há poucos dias ele ganhou do Inea uma retribuição pela dedicação à conservação da biodiversidade brasileira: o novo auditório do órgão ambiental ganhou o nome de Alceo Magnanini.