Título: Pouca experiência e falta de qualificação são entraves
Autor: Cássia Almeida, Wagner Gomes
Fonte: O Globo, 20/06/2010, Economia, p. 28

Há divergência entre especialistas se o país está próximo do pleno emprego

RIO, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE.

Pouca educação formal, baixa qualificação, jovens ou velhos demais, pouca flexibilidade de horário. Esses são apenas alguns entraves que o universo de 1,71 milhão de desempregados nas seis maiores regiões metropolitanas do país enfrenta para conseguir uma ocupação, seja com carteira assinada ou não. No momento em que se discute se o país está caminhando para o pleno emprego, será esse o contingente mínimo de desempregados? Há economistas que acreditam que sim. Outros só creem que essa situação de pleno emprego se tornará realidade depois de dois ou três anos de crescimento econômico forte.

Descontando as influências sazonais, a parcela de desempregados no total da força de trabalho está em 6,7%. É a mais baixa dos últimos 15 anos, afirma Luiza Rodrigues, economista do Santander.

¿ Há falta de mão de obra qualificada. Ou se busca em outra empresa, pagando mais, o que gera inflação, ou se treina, o que também tem custo e pressiona a inflação. Já ultrapassamos o piso que a taxa de desemprego pode cair sem causar inflação ¿ afirma.

O aquecimento da economia, lembra o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), faz o trabalhador também ¿exercer seu direito de buscar emprego melhor¿, mexendo nas taxas de desemprego.

Foi assim com o metrologista Paulo Henrique Pellegrino Correa, de 28 anos. Ele pediu demissão do último emprego, onde ficou apenas cinco meses, porque acreditava que poderia ganhar mais. Segundo ele, a empresa, além de pagar apenas R$ 900, subsidiava somente 50% do vale-transporte e não oferecia vale-alimentação. Está desempregado há três meses.

¿ Fiz muitas entrevistas, mas até agora nada. Tenho uma lista de 15 empresas às quais mando o currículo todo dia. Cinco me chamaram, mas não fui contratado por nenhuma até agora.

`O país os abandonou do ponto de vista profissional¿ Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ainda existe um contingente grande de subocupados e de pessoas que precisam ser qualificadas para entrar no mercado: ¿ Os trabalhadores não tiveram como se qualificar. Foram vítimas de um país que os abandonou do ponto de vista profissional.

Já os jovens sofrem com a falta de experiência. É o caso do estudante Diogo Boëchat de Moraes, que completou 18 anos há menos de um mês. Ele fala alemão, francês, inglês e espanhol, cursa o terceiro ano do ensino médio, mora na região da Pampulha, em Belo Horizonte, e não consegue emprego. Na capital mineira, a parcela de desempregados de 15 a 17 anos é superior à média das seis regiões metropolitanas: 15%, contra 6,84% da média nacional.

¿ Pensei em dar aulas particulares.

Até hoje, só dei (aulas) para amigos, sem cobrar.