Título: Temo uma interferência de Uribe
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 21/06/2010, O Mundo, p. 21

BOGOTÁ. O cientista político Manuel José Bonnet Locarno, professor da Universidade del Rosario, em Bogotá, é um ex-militar que comandou o Exército colombiano nos anos 90. Ele diz que confia no ¿talento de jogador de pôquer¿ de Juan Manuel Santos para neutralizar Uribe.

O GLOBO: Santos governará com o apoio de mais de 85% do Congresso, mais do de Uribe.

Ele terá um governo fácil? MANUEL LOCARNO: De jeito nenhum, porque ele prometeu um governo de unidade nacional, e o de Uribe esteve muito longe disso. Uribe não aproximou ninguém, governou sozinho.

À medida que os objetivos de Uribe e dos congressistas não forem atendidos, todos podem deixar de apoiar Santos. Temo, aliás, uma interferência do autoritarismo de Uribe no novo governo. Os dois devem se chocar, no futuro. Mas Santos, como bom jogador de pôquer que é, se for implementando as reformas que prometeu, e que são necessárias para a Colômbia, pode neutralizar Uribe e a maquinária política do uribismo.

E que reformas são essas? LOCARNO: As políticas de segurança ele vai continuar, pois já caminham sozinhas, e estão dando certo. O objetivo final de Santos deverá ser resolver a questão social e do desemprego.

Mas antes disso ele precisa fazer duas coisas: ajeitar a casa internamente e reverter o isolamento regional da Colômbia. Terá que parar de brigar com as instituições, como Uribe faz, e se reaproximar do Brasil, da Venezuela e do Equador.

Como deverá ser a relação entre Santos e Chávez? E Lula? LOCARNO: O governo brasileiro vai mudar em breve; dificilmente será agressivo na política externa como Lula foi. Mas os dois países precisarão cooperar mais, especialmente no combate ao narcotráfico, que é uma questão regional. Acho que Chávez vai felicitar Santos por telefone, nos próximos dias. A Venezuela entrou numa crise de abastecimento enorme após romper as relações conosco. (M.T.C)