Título: À espera da ANP, Petrobras adia capitalização
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 23/06/2010, Economia, p. 25

Estatal decide fazer operação, que incluiria oferta pública de ações, só depois que sair avaliação oficial das reservas do pré-sal

BRASÍLIA. A Petrobras informou ontem que vai adiar para setembro a operação de capitalização da companhia, que estava prevista para sair até julho.

Em fato relevante enviado ao mercado, a estatal informa que vai esperar o laudo da empresa certificadora, que será contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para avaliar até agosto as reservas de petróleo na camada do pré-sal em áreas não licitadas. Para garantir a operação antes das eleições, a ANP foi autorizada ontem a dispensar a licitação para contratação da certificadora. Pelo Plano de Negócios divulgado na última segunda-feira, a Petrobras terá que captar US$ 58 bilhões nos próximos anos, incluindo empréstimos em instituições financeiras e a oferta pública de ações, para fazer frente aos investimentos de US$ 224 bilhões programados para até 2014.

O aumento de capital de até R$ 150 bilhões (cerca de US$ 85 bilhões) da estatal foi aprovado ontem em assembleia de acionistas, sendo R$ 60 bilhões em ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e R$ 90 bilhões em ordinárias (ON, com direito a voto). Parte da capitalização ficará a cargo da União e parte será oferecida ao mercado em geral, na oferta pública. Depende da avaliação da certificadora o processo de cessão onerosa, sistema pelo qual o governo federal cederá à Petrobras o direito de explorar 5 bilhões de barris de petróleo em áreas do pré-sal ainda não concedidas.

Em pagamento, o governo receberá de volta os títulos que emitir para comprar ações da Petrobras e manter sua participação na empresa.

A ideia da estatal era usar a estimativa de uma empresa que ela própria contratou e, depois, quando saísse o valor oficial da ANP, faria um acerto de contas. Mas o governo tinha restrições em usar apenas os dados da Petrobras, por isso dispensou a ANP da licitação.

Se ocorresse a licitação, ela estaria concluída em quatro meses, ou seja, outubro.

O mercado financeiro vem recebendo mal as incertezas em relação à capitalização, sobretudo o preço do barril ¿ que o mercado estima que ficaria em US$ 5 ¿ e o valor da oferta pública de ações propriamente dita. Isso porque analistas consideram a capitalização é imprescindível para sua viabilidade.

Ontem, as ações PN caíram 0,98%, e as ON, 2,72% na Bolsa de São Paulo. No ano, acumulam queda de 18,48% e 19,14%, respectivamente.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS), relator do projeto da capitalização no Senado, não vê problema no atraso: ¿ Setembro está dentro dos prazos estabelecidos pela Petrobras.

Quanto antes melhor, mas o que não pode é o processo acontecer no fim do ano.

A ANP contratou a Gaffney, Cline & Associates, única empresa que havia participado da licitação e acabou desclassificada por erros de documentação. A empresa inscreveu sua filial brasileira, a GCA do Brasil Consultores, mas apresentou a documentação com dados da matriz.

Fundada em 1936, essa empresa é a atual certificadora da Petrobras fora do pré-sal.

Projeto que cria a Petro-Sal deve ser votado hoje Para o trabalho nos novos campos, a estatal contratou a DeGolyer & MacNaughton, que tem 45 anos de experiência e havia sido sua certificadora anteriormente. De acordo com fontes do mercado, a avaliação da DeGolyer está quase encerrada, o que possibilitará estabelecer até julho o preço do barril da cessão onerosa.

De acordo com Mônica Araújo, estrategista da Ativa Corretora, para ganhar tempo e concluir os trabalhos até agosto, a Gaffney, Cline & Associates poderá usar dados já coletados pela DeGolyer & MacNaughton.

¿ Isso não é ruim. São certificadoras independentes e há cláusulas de reavaliações futuras ¿ diz Mônica.

A Petrobras, sob delegação da ANP, já localizou mais petróleo no pré-sal na área de Franco, na Bacia de Santos, e perfura uma segunda área chamada Libra. No primeiro, encontrou 4,5 bilhões de barris.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), adiou para hoje a tentativa de votar no plenário do Senado o projeto que cria a Petro-Sal, estatal que irá coordenar a exploração do petróleo no pré-sal. Segundo Jucá, apesar da presença de 42 senadores na Casa, o governo concordou em passar a votação para hoje porque o relator do projeto, senador Tasso Jereissati (PSDBCE), não está em Brasília.

¿ Não vamos derrotá-los sem que eles estejam presentes. É um gesto de elegância da liderança governista ¿ disse Jucá.