Título: Que Lagoa é essa?
Autor: Candida, Simone; Costa, Jacqueline
Fonte: O Globo, 24/06/2010, Rio, p. 14

Trecho do Cantagalo está completamente sujo e abandonado; solução definitiva não virá tão cedo

A SUJEIRA em torno do quiosque há meses fechado (acima) e o estado lamentável do piso da quadra que um dia foi de tênis

UM CAMPO de pelada com as cercas de proteção esburacadas

BUEIRO COM a tampa quebrada: perigo para frequentadores

BANCOS DE cimento amontados num canto da área que vive alagada

Um dos cenários mais bonitos e nobres da cidade, e um dos mais procurados para o lazer, a Lagoa Rodrigo de Freitas não anda recebendo tratamento digno. Pelo menos não no trecho do Parque do Cantagalo, que contrasta com o restante da orla de 7,2km. Ali, há lama mesmo em dias sem chuva, ciclovias com meio-fio e asfalto destruídos e cheios de ondulações, bancos de cimento quebrados amontoados, postes de luz sem conservação. Uma quadra de tênis chama atenção por estar com o piso arrancado e, para completar o quadro de terra arrasada, junto aos pedalinhos jaz um quiosque fechado e abandonado, cercado de lixo e sucata por todos os lados.

A Secretaria municipal de Conservação e Serviços Públicos informou que, até segunda-feira, serão enviados técnicos para vistoriar todo o entorno da Lagoa. Após o levantamento, os reparos serão programados. Sobre os problemas relativos à iluminação, a RioLuz informou que já iniciou a manutenção e está substituindo os pontos de luz com problemas. O trabalho será concluído em sete dias úteis e inclui tanto os postes das vias principais (avenidas Borges Medeiros e Epitácio Pessoa) quanto os da ciclovia.

Ainda haverá estudo para obra estrutural

Já os problemas de infra-estrutura no Parque do Cantagalo não serão solucionados tão cedo. Para resolver de vez os afundamentos constantes na região, que sofre há 30 anos com alagamentos, a Secretaria municipal de Obras começará em julho um levantamento geotécnico que servirá de base para um futuro projeto de estabilização da argila mole existente em vários pontos do entorno do espelho d¿água. O estudo tem prazo de 90 dias para ser concluído. Somente após todo o trabalho ¿ incluindo o levantamento e as obras necessárias ¿ é que a Secretaria de Conservação poderá fazer o conserto do meio-fio e do pavimento da ciclovia e dos bancos quebrados, entre outros equipamentos danificados. O levantamento que servirá de base para solucionar o problema do solo da Lagoa está orçado em R$291 mil. O trabalho será feito em parceria com a Geo-Rio, a Subsecretaria de Gestão das Bacias Hidrográficas (Rio-Águas), a Coppe-UFRJ e a PUC.

Até lá, porém, os frequentadores terão que conviver com os problemas. O quiosque fantasma, por exemplo, hoje está desativado, mas até uns dois ou três meses atrás abria as portas nos fins de semana e feriados. Ontem, havia grades, cadeiras de madeira empilhadas num canto, uma geladeira desligada exposta e muita sujeira espalhada pelo chão ao redor do quiosque: restos de vidros de tempero, sachês de maionese e ketchup, saquinhos de sal, embalagens de garrafa pet e latinhas. Na área do Corte do Cantagalo, há sete quiosques, cinco deles em atividade, segundo a subprefeitura da Zona Sul.

¿ Quem olha para esse quiosque não acredita que está na Lagoa. Uma vergonha. O pior é que ele funcionava até algum tempo atrás. Os donos bombeavam a água que acumula no solo e serviam comida aqui ¿ impressiona-se a psicóloga Lília Correa, de 58 anos, moradora do bairro.

Em relação ao material acumulado junto ao quiosque abandonado, o subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos, se comprometeu a realizar ainda hoje uma vistoria e notificar os proprietários.

Para combinar com o abandono do quiosque, existem as quadras de esportes em estado desolador, com as cercas de proteção furadas e o solo esburacado. O caso mais gritante é o da quadra de tênis, cujo piso, repleto de crateras e ondulações, inviabiliza qualquer tentativa de uso do equipamento. Ao lado, a antiga área de lazer virou um lamaçal. E os bancos de concreto, que segundo ciclistas foram retirados no início do ano pela prefeitura, foram empilhados junto a uma árvore.

Outro problema constatado pelo GLOBO foram os postes, alguns com fios aparentes e com luminárias quebradas, e a existência de bueiros destampados junto às duas quadras de futebol. No parquinho infantil próximo ao Parcão (para passeios com cães), havia ontem um balanço quebrado.

¿ A quadra de tênis está um horror. E a área de lazer, que sempre alaga, agora virou um lamaçal. Homens da prefeitura estiveram aqui há uns três meses, jogaram terra no lugar e disseram que iam fazer uma grande obra. Mas nada foi feito. Isso está uma vergonha. Eu costumo caminhar aqui todos os dias e a impressão que dá é que a prefeitura abandonou este lugar ¿ conta a médica Ana Maria Costa, de 45 anos, também moradora da Lagoa.

Frequentadores se decepcionam

Outros frequentadores concordam com a tese de que aquele pedaço da Lagoa ¿ onde ficam a área dos pedalinhos, o campo de beisebol e o Parcão, entre outros atrativos ¿ parece ter sido esquecido pelo poder municipal. A dona de casa Cristina Torres, de 40 anos, moradora da Tijuca, ontem de manhã decidiu caminhar pela Lagoa, apesar do tempo chuvoso. Ficou decepcionada com o que viu no Cantagalo:

¿ Eu estava há alguns meses sem aparecer por aqui. Não imaginava que esta área estivesse tão degradada. A parte de lá, do Parque dos Patins, está muito mais bem cuidada ¿ comparou Cristina, acompanhada da filha.

Já entre corredores e ciclistas, a maior reclamação é quanto ao estado da ciclovia, que apresenta ondulações em vários pontos. No lado da Avenida Epitácio Pessoa, por exemplo, há um trecho com meio-fio e asfalto quebrados ¿ um risco para os desavisados. A presidente da Associação de Moradores da Fonte da Saudade, Ana Simas, acha que é descaso da prefeitura:

¿ É um cartão postal importante da cidade, não deveria ser tão mal cuidado ¿ resume.

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