Título: Troca no comando
Autor:
Fonte: O Globo, 24/06/2010, O Mundo, p. 32

Obama nomeia o general Petraeus para substituir McChrystal na liderança no Afeganistão

OBAMA CHEGA ao jardim da Casa Branca acompanhado do general David Petraeus, do ministro da Defesa, Robert Gates, e do vice, Joe Biden: sem ressentimento pessoal

MCCHRYSTAL deixa a Casa Branca após o encontro

Fernando Einchenberg

Trinta minutos no Salão Oval da Casa Branca selaram o futuro do general Stanley McChrystal, comandante dos Estados Unidos no Afeganistão. Em uma conversa franca, o presidente Barack Obama decidiu retirá-lo do comando das operações. McChrystal não resistiu às repercussões de seu perfil publicado pela revista ¿Rolling Stone¿, em que ele e assessores próximos disparam comentários cáusticos e derrisórios sobre o próprio presidente e altos funcionários do governo. Para seu lugar, foi designado o general David Petraeus, chefe do Comando Central das Forças Armadas.

Após o encontro com o general afastado, Obama fez um pronunciamento nos jardins da Casa Branca, no qual disse ter ¿ter aceitado a renúncia¿ de McChrystal, e ressaltou que a decisão não envolve alguma mudança da estratégia de guerra no Afeganistão, um combate que já dura quase nove anos. O presidente descartou o afastamento do general por ¿diferenças políticas¿ ou ¿insultos pessoais¿, e disse acreditar que, ¿mesmo que seja difícil perdê-lo, tratou-se de uma decisão correta para a segurança nacional¿.

¿ É minha tarefa garantir que nenhum diversionismo venha complicar a missão vital. Isso inclui a adesão a um estrito código de conduta. Aceito o debate entre a minha equipe, mas não vou tolerar a divisão ¿ disse, acrescentando que as recentes declarações de McChrystal desrespeitaram os rígidos códigos militares.

Obama foi eleito com a promessa de concluir a missão americana no conflito afegão, uma marca de insucesso de George W. Bush. Ao anunciar a saída de McChrystal, o presidente mostra liderança e garante a união do governo com o comando militar, mas perde seu maior estrategista na região, considerado o arquiteto da campanha de contrainsurgência.

McChrystal deixa o comando sem ter resolvido a questão de insegurança em Marjah, alvo de uma grande ofensiva em fevereiro, e no momento em que se prepara uma das mais importantes operações da guerra até agora: a expulsão dos talibãs de Kandahar, a maior cidade do sul do país.

No ano passado, o general convenceu a cúpula do governo da necessidade de um maior efetivo no front, e conseguiu o envio de mais 30 mil soldados ¿ pelo menos 21 mil já estão no país, e o restante chegará até agosto. Também foram reforçados os ataques com aviões não tripulados e, mesmo o prazo estabelecido pela Casa Branca para o início da retirada das tropas, em julho de 2011, já é contestado entre militares.

Mortes, um desafio para Petraeus

McChystal estabeleceu como meta a parceria com o poder político, militar e a inteligência locais e, com essa estratégia, aproximou-se e ganhou a confiança do presidente Hamid Karzai. A liderança do general, apesar de objetivos frustrados, vinha sendo considerada positiva pelos congressistas.

Obama foi buscar um nome forte para substituí-lo, o do general Petraeus, respeitado tanto por militares quanto por políticos, e que, como líder do Comando Central, era o chefe de McChrystal. Petraeus é conhecido sobretudo pelo comando da operação que aumentou o número de tropas no Iraque ¿ à qual são atribuídos grandes progressos militares. Na realidade, o novo cargo é inferior ao que o general ocupa atualmente.

Petraeus terá agora de afrontar diretamente as funestas estatísticas da guerra no Afeganistão. No ano passado, 2.259 civis morreram no conflito. Este mês de junho deverá registrar o maior número de baixas americanas desde o início da guerra, com 43 mortes já confirmadas.