Título: Transferências sobem de 15% para 18,5% da renda
Autor: Ribeiro, Fabiana; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 24/06/2010, Economia, p. 26

Aposentadoria pesa mais que Bolsa Família

Fabiana Ribeiro, Luciana Rodrigues e Letícia Lins

RIO e IPOJUCA (PE). O Bolsa Família foi contemplado, pela primeira vez, na pesquisa divulgada ontem pelo IBGE.

Mas, segundo especialistas, não é o programa que mais pesa nas chamadas transferências, que incluem aposentadorias, pensões, programas sociais e doações. Segundo a POF, a participação das transferências passou de 15% para 18,5% sobre o rendimento total no país ¿ uma expansão fortemente influenciada por aposentadorias e pensões governamentais e que ocorre em todas as regiões. Já o rendimento do trabalho cai de 62,0% para 61,1% da renda.

Do total das transferências, aposentadorias e pensões do INSS somam 55,14%, o que mostra o envelhecimento da população. Já os programas sociais federais ¿ principalmente Bolsa Família ¿ são apenas 3,82%.

No Sul, é de 1,53%, mas no Norte atinge 10,74%.

Elizabeth Santos, no bairro de São Miguel, periferia de Ipojuca, a 57 quilômetros de Recife, ganha R$ 122 por mês do Bolsa Família. Ela gasta em comida e gás quando o companheiro, cortador de cana, está desempregado. Analfabeta, ela cuida de dez filhos: ¿ Passo um ¿rato¿ medonho, mas sem o Bolsa Família ainda seria pior.

Além das transferências, para as famílias mais pobres ganhou peso o rendimento do trabalho. Em 2002/2003, as famílias com renda de até dois salários mínimos obtinham 21,5% de suas rendas das transferências e 44,4% do trabalho. Em 2008/2009, essas parcelas foram de 26,7% e 46,3%, respectivamente.

Houve queda, portanto, no rendimento obtido de forma não monetária pelos mais pobres.

São doações, alimentos produzidos para consumo próprio, retiradas que pequenos empreendedores fazem de seu caixa, entre outros.

Para Fernando Gaiger Silveira, do Ipea, isso mostra a maior formalização da economia.

Segundo Marcelo Neri, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), houve expansão do mercado de trabalho para os mais pobres: ¿ As pessoas estão trabalhando mais, levando renda para casa. É menos presença do Estado e mais o mercado de trabalho. O governo dá a isca, e o pobre começa a pescar. E isso é sustentável a longo prazo.