Título: Os brasileiros destinam 36% de seus gastos para morar mal
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 24/06/2010, Economia, p. 27

Para Fernando Gaiger Silveira, doutor em Economia pela Unicamp e pesquisador do Ipea, é preciso pensar em políticas públicas para o transporte urbano, tema que ainda não entrou na agenda dos governantes. As despesas com habitação, apesar de estáveis, também preocupam: o brasileiro mora mal e gasta muito com tarifas de luz e telefone, alerta.

Luciana Rodrigues O GLOBO: Como avalia a melhora na percepção das famílias brasileiras?

FERNANDO GAIGER SILVEIRA: O país está bem melhor e as pessoas sentem isso.

Na POF anterior, metade dos brasileiros tinha algum grau de insegurança alimentar.

Agora, isso afeta pouco mais de um terço das famílias. As dificuldades orçamentárias também ficaram menores.

Mas os anos de 2002/2003 foram de crise. Isso não afeta a comparação?

SILVEIRA: O biênio 2008/2009 também foi muito tumultuado. Apesar da melhora captada pela POF, não pegamos todo o sorriso na praça.

O IBGE mostrou um forte avanço dos gastos com transportes. Isso preocupa?

SILVEIRA: A alimentação era a segunda rubrica nos gastos familiares e agora já é quase a terceira. Não dá para dizer que somos um país pobre gastando menos de 20% com alimentação. Essa pesquisa traz um recado claro: o transporte é o que está pressionando os mais pobres. A questão alimentar está sendo aliviada com o Bolsa Família. Habitação ainda pesa muito no orçamento, mas o tema já entrou na agenda, com o Minha Casa, Minha Vida. Falta agora cuidar dos transportes públicos.

O gastos com habitação praticamente não subiram desde 2002/2003.

SILVEIRA: Ficaram estáveis num patamar muito elevado. Os brasileiros destinam 36% de seus gastos para morar mal. E isso reflete não só a compra da casa própria ou o aluguel, mas também a telefonia, a luz. As privatizações no Brasil foram bem sucedidas, mas foram custosas para as famílias.

As contas de luz e telefone subiram em patamares acima da inflação. A luz no Brasil é uma das mais caras do mundo.

E o que explica o brasileiro gastar mais com saúde do que com educação?

SILVEIRA: Os preços. Os planos de saúde, que pesam no orçamento dos mais ricos, subiram acima da inflação. Para os mais pobres, a pressão vem dos medicamentos.

E a educação ficou mais barata.

As faculdades particulares estão mais acessíveis. Tivemos programas como o ProUni. Houve barateamento de material escolar. A queda nos gastos com educação é significativa, de um ponto percentual.