Título: Volume de crédito volta a nível pré-crise global
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/06/2010, Economia, p. 28

Montante total chega a R$ 1,5 trilhão, mesmo com alta dos juros básicos, que chegou ao consumidor em maio

BRASÍLIA. Mesmo com as taxas de juros em alta para famílias e empresas e a expectativa de mais aperto monetário, o consumidor brasileiro ainda não tirou o pé do acelerador quando o assunto é financiamento.

Segundo o Banco Central (BC), o volume de empréstimos no país cresceu 2,1% em maio sobre o mês anterior, ritmo que se mantém no início de junho e que volta aos patamares précrise, no fim de 2008. O estoque de crédito atingiu no mês passado R$ 1,5 trilhão, ou 45,3% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).

¿ Num primeiro momento, há elevações nas taxas de juros, depois vem aumento nos prazos (dos empréstimos). Somente mais no futuro deve-se observar uma acomodação no crescimento do crédito, mas é difícil dizer quando ¿ afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, ao ser questionado se as elevações da Selic não estariam surtindo o efeito desejado.

Em abril passado, o BC começou um novo ciclo de aumento da taxa básica de juros, a fim de encarecer o crédito, reduzir o consumo e evitar pressões inflacionárias. De lá para cá, fez dois aumentos na Selic de 0,75 ponto percentual cada, levando-a ao patamar atual, de 10,25% ao ano.

Inadimplência fica praticamente estável Por causa desse movimento, que encarece o custo de captação dos bancos, as taxas de juros médias dos empréstimos subiram em maio. Para pessoa jurídica, o salto foi de 0,7 ponto percentual, chegando a 27% ao ano, em média. Para as pessoas físicas, a alta foi de 0,4 ponto, para 41,5% ao ano, o segundo mês seguido de elevação. Em junho, até o dia 10, ambas as taxas estavam estáveis, mas Lopes argumentou que isso não significa que o movimento de alta foi interrompido.

O BC informou ainda que a maior alta nos juros em maio ficou para o CDC de bens duráveis, que passou de 49,7% em abril para 51,9% ao ano. Na ponta oposta, vieram os juros do cheque especial, que recuaram um ponto, para 160,3% ao ano.

Já os spreads bancários ¿ diferença entre o custo de captação e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final ¿ subiram 0,1 ponto em todas as esferas em maio. Para a pessoa física, ele chegou a 29,6 pontos percentuais (do juro médio de 41,5%) e, para as empresas, a 16,9 pontos percentuais (do juro médio de 27%).

Lopes reconheceu que o fôlego ainda grande na tomada de crédito é mais um elemento que aquece o consumo e, por consequência, a atividade econômica.

Mas argumentou que não há riscos de solvência, já que a inadimplência está equilibrada.

Em maio, por exemplo, ela permaneceu praticamente estável: para as famílias, o indicador ficou em 6,8% (percentual dos empréstimos com atraso superior a 90 dias). Com os prazos de financiamento sendo dilatados, porém, o calote pode ganhar corpo.

¿ Existe uma tendência de esse movimento (de dilatação dos prazos) bater na inadimplência, com mais e maiores prestações. Mas o risco é marginal e está tudo dentro da trajetória esperada. É cedo para falar em apertos monetários mais contundentes por causa do crédito em alta ¿ ponderou o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles.

Com os juros mais elevados, a saída imediata dos bancos e financeiras é aumentar os prazos dos empréstimos, para evitar que as prestações fiquem muito mais caras e pesem no bolso do consumidor, afastandoo das compras. Ainda mais neste momento, de emprego e renda em alta.

Esse movimento já foi sentido em maio. Segundo o BC, o prazo médio das concessões feitas às famílias cresceu de 509 para 515 dias. Para as empresas, o salto foi ainda maior: de 351 para 363 dias corridos.