Título: Quem, eu?
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 22/06/2010, O País, p. 3

Procurado pela Interpol e com bens bloqueados, Maluf diz ter "a ficha mais limpa do Brasil Tatiana Farah

SÃO PAULO. Procurado pela Interpol fora do Brasil, com seus bens bloqueados pela Justiça brasileira, respondendo a processos por crimes financeiros e lavagem de dinheiro e a outras dezenas de processos contra a administração pública, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) disse ontem ter a ¿ficha mais limpa do Brasil¿. Na convenção estadual do PP, em São Paulo, Maluf, que preside a seção regional da sigla, afirmou que concorrerá à reeleição, apesar de já estar em vigor a Lei da Ficha Limpa, e que as duas condenações que sofreu por decisões colegiadas (mais de um juiz) são ¿mentiras¿.

Embora negue, o deputado tem duas condenações por decisões colegiadas: uma por suposto superfaturamento na compra de frangos quando foi prefeito de São Paulo (1993-96) e outra por criar uma companhia de petróleo que nada achou no estado, a Paulipetro, quando foi governador, de 1979 a 1982.

¿ A minha ficha é a mais limpa do Brasil. Tenho uma ficha de trabalho, de realização, de 43 anos, sem uma condenação. Sou elegível, sou candidato a deputado federal e não tenho nenhuma condenação que me impeça ¿ disse o deputado, em entrevista, ao lado do candidato do PP ao governo paulista, o deputado Celso Russomano.

Segundo o advogado de Maluf, Eduardo Nobre, foi obtido um efeito suspensivo em relação à condenação em segunda instância no Tribunal de Justiça de São Paulo, há cerca de dois meses, pelo escândalo dos frangos. Assim, segundo o advogado, Maluf teria o direito de concorrer às eleições. Já a condenação no caso Paulipetro, no Supremo Tribunal Federal (STF), ocorreu em dezembro passado, quando o exprefeito foi condenado a devolver R$ 4,5 bilhões aos cofres públicos por uma ação popular iniciada na Justiça Federal do Rio, há quase 30 anos. Por se tratar de uma ação popular, que não é citada na Lei da Ficha Limpa, o advogado de Maluf afirma que ela não poderia ser incluída como impedimento à candidatura.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO, como o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Mozart Valadares, têm outro entendimento. Para Valadares, por se tratar de uma condenação por mau uso do dinheiro público, e por não ter cumprido a sanção (o ressarcimento aos cofres públicos), o deputado deveria ter sua candidatura barrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Maluf nega os crimes e até as condenações.

Sobre o escândalo dos frangos, disse: ¿ Não é verdade. Fui inocentado em primeira instância, e o caso está agravado. Portanto, não tenho condenação.

É mentira que eu tenha uma condenação.

Sobre a Paulipetro, afirmou: ¿ Não tenho condenação também na Paulipetro. Aliás, foi a coisa mais divina que eu fiz na minha vida: dizer que tinha petróleo no Estado de São Paulo.

Demorou 25 anos para a Petrobras descobrir, na Bacia de Santos, o présal, uma Arábia Saudita lá embaixo.

Maluf, ao criar a Paulipetro, perfurou 69 poços, mas na Bacia do Rio Paraná.

Não achou petróleo nem gás.

Sobre as demais candidaturas do PP, Maluf afirmou: ¿ Todos os candidatos do partido são gente de bem.

Enquanto Maluf discursava na convenção, uma candidata a deputada federal, Miriam da Conceição, gritava: ¿ É ficha limpa! É ficha limpa! Alguns participantes estranharam, pensando se tratar de um protesto, mas ela insistia: ¿ É ficha limpa, sim! A minha e a do Russomano são as mais limpas que existem ¿ disse ela, provocando risos entre os colegas de partido.

O procurador regional eleitoral, Pedro Barbosa, não quis se manifestar sobre a possível candidatura de Maluf.