Título: Pré-campanha chega ao fim com insatisfação pelas degolas de aliados
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/06/2010, O País, p. 4

Pragmático, PT impediu candidaturas para garantir o PMDB para Dilma

BRASÍLIA. Nesta primeira fase da sucessão presidencial, o pragmatismo tomou conta dos partidos, principalmente o PT. Em menos de três meses, a campanha, que só começa oficialmente em 5 de julho, já produziu várias vítimas. O balanço desta pré-campanha mostra que aliados e petistas foram sacrificados em favor da candidatura presidencial da petista Dilma Rousseff, deixando um rastro de insatisfação para trás. O desafio, agora, depois de tantas degolas, reconhecem os próprios dirigentes petistas, é tentar que os chamuscados não pulem fora do barco e continuem entusiasmados com o projeto de poder do PT.

Entre as maiores vítimas da imposição da aliança PTPMDB estão os deputados federais Ciro Gomes (PSB-CE), forçado a sair da disputa presidencial, e Flávio Dino (PCdoBMA), que perdeu o apoio oficial do PT para sua candidatura ao governo do Maranhão, depois de uma intervenção do Diretório Nacional petista, que forçou a aliança formal para a reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB).

Aliança com PMDB forçou sacrifícios

A maior parte das degolas é fruto da decisão do PT de pagar o preço exigido pelos peemedebistas para fazer a aliança nacional. Nessa conta entraram, entre faturas menores, a vaga de vice-presidente para o deputado federal e presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e o apoio incondicional para as reeleições de Roseana e do governador Sérgio Cabral (RJ), além do apoio à candidatura do senador Hélio Costa (PMDB-MG) ao governo de Minas Gerais. Com essa política, não foram poupados nem mesmo líderes históricos do PT.

¿ Essa é uma política definida pelo PT que enfraquece a esquerda e nos deixa com pouca perspectiva. Isso dói, mas passa. Porém, acho que a História vai mostrar que o melhor caminho é o do diálogo, e não do sacrifício ¿ alertou o deputado Flávio Dino (PC do B-MA), vítima do PT.

No Rio, com a pressão para apoiar Cabral, foi sacrificada a candidatura ao Senado da ex-governadora petista Benedita da Silva. Ela foi derrotada para acomodar na chapa majoritária o ex-prefeito de Nova Iguaçu Lindberg Farias, que ameaçou concorrer contra o governador.

Em Minas, a maior vítima foi o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, que, como Hélio Costa, queria ser candidato ao governo.

Teve que se contentar com o Senado.

Outro nome importante do PT, o ex-ministro Patrus Ananias (MG), já desabafou com amigos a sua frustração com o episódio ¿ ele também queria disputar o governo mineiro.

¿ Foram muitos sacrifícios de talentos do PT e aliados.

Essa é uma visão ingênua do processo histórico brasileiro.

A ideia é que temos que nos dissolver nos outros partidos para manter a liderança. O problema é que, depois, podemos perceber que perdemos nossa liderança e o partido ¿ adverte o deputado Paulo Delgado (PT-MG).

Em alguns casos, a mágoa permanece forte. A cúpula do PSB ainda tenta contornar o episódio que levou ao sacrifício a candidatura de Ciro Gomes. Mesmo depois de passar um mês de férias nos Estados Unidos, Ciro voltou ao Brasil e avisou aos aliados mais próximos que não vai se engajar na campanha de Dilma. O presidente Lula já mandou o recado de que deseja conversar com Ciro, mas os socialistas anteciparam que será lucro se Ciro ficar em ¿silêncio obsequioso¿ durante a campanha.

No PSB, a avaliação é que Ciro só está contido porque não quer prejudicar a reeleição do irmão, o governador Cid Gomes (PSB-CE).

Dutra minimiza insatisfações

No aliado PR, também há forte desconforto com o tratamento que a eventual candidatura do ex-governador Anthony Garotinho no Rio tem recebido do Palácio do Planalto. A cúpula do partido considera um erro fazer Garotinho aparecer como uma espécie de ¿patinho feio¿ na disputa fluminense.

Há contrariedade com o fato de o presidente Lula ter avisado que não vai subir no palanque dele porque seu empenho é pela reeleição de Cabral.

Mas, na cúpula do PT, a avaliação é oposta. O presidente nacional do par tido, José Eduardo Dutra, argumenta que a candidatura de Ciro não se viabilizou politicamente, e que, em relação a Flávio Dino, houve uma decisão do PT de não apoiá-lo. E minimiza os episódios em que petistas foram sacrificados.

¿ Essas são situações conjunturais.

Isso faz parte da política.

Quem está na política tem que estar ciente de que isso pode acontecer. Todos esses personagens já desagradaram em algum momento a seus companheiros de política.

Ninguém tem a exclusividade e o monopólio da insatisfação ¿ justifica Dutra.