Título: BC vai reduzir PIB de novo
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 23/06/2009, Economia, p. 15

Piora no desempenho da economia levará Banco Central a diminuir a projeção de crescimento do atual 1,2% para entre 0,5% e 0,3%

Para desânimo de parte do governo, que continua acreditando em crescimento próximo de 1% neste ano, o Banco Central informará até o fim deste mês que jogou, mais uma vez, para baixo a sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB). Ao que tudo indica, a nova estimativa ficará entre 0,3% e 0,5% de alta, ainda um número considerável se for levado em conta que o consenso no mercado é de uma queda de 0,57%. A nova estimativa fará parte do relatório trimestral de inflação. No documento divulgado em março, o BC apostava em avanço de 1,2%. Em dezembro de 2008, a previsão era de alta de 2,8%. ¿Infelizmente, não há como o banco se descolar da realidade¿, disse um técnico da instituição.

O que mais pesou para a revisão foi o resultado do PIB no primeiro trimestre. Ainda que o tombo de 0,8% em relação aos últimos três meses de 2008 tenha ficado abaixo das projeções do mercado, o BC trabalhava com um número positivo, mesmo que bem próximo de zero. ¿Portanto, não há como a nossa projeção não ser menor¿, acrescentou. Ele ressaltou, porém, que o banco já identificou sinais de recuperação, que deverão ficar mais claros a partir do segundo semestre. ¿Nossa aposta é de que, nos últimos três meses, o PIB já esteja crescendo acima de 4%.¿

Discurso Na avaliação do BC, conforme se viu no primeiro trimestre, o consumo das famílias e do governo será fundamental para que o PIB não feche o ano no vermelho. ¿Sabemos que muita gente não gostará das nossas projeções. Mas somente o fato de o Brasil fechar o ano com crescimento, mesmo que próximo de zero, será motivo para comemoração. O PIB mundial terá um forte encolhimento¿, afirmou um outro funcionário do BC. Na Fazenda, a ordem é manter o discurso de que o crescimento será próximo de 1%, para estimular a retomada da confiança dos agentes econômicos. Nos encontros reservados, porém, o próprio ministro Guido Mantega fala em avanço muito parecido com o que será divulgado pelo BC.

O número O impacto 0,57% é a estimativa de queda do mercado financeiro para a economia neste ano

Análise da notícia A passos lentos

A redução na estimativa do Banco Central para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano era mais do que esperada. Apesar de o presidente Lula insistir por um bom tempo que a crise mundial era uma ¿marolinha¿, os mais sensatos dentro do governo sabiam que o estrago na economia brasileira ¿ como em todo o planeta ¿ seria profundo. Isso ficou explícito nos últimos três meses de 2008, quando o PIB encolheu 3,6% e o setor industrial desabou quase 15%, e se consolidou no primeiro trimestre deste ano, quando o Brasil entrou em recessão técnica.

Foi justamente por a economia estar caminhando a passos lentos, muito abaixo do seu potencial de crescimento (de 4% a 4,5% ao ano) sem gerar inflação, que o BC promoveu um corte expressivo na taxa básica de juros (Selic). Desde o início do ano, os juros caíram 4,5 pontos percentuais, para 9,25% ao ano, o menor patamar desde 1986, quando a Selic foi criada. Não há como imaginar um BC comandado por Henrique Meirelles promover tal redução de juros se a atividade econômica não estivesse no chão.

Ontem, em reunião com analistas no Rio, os dois diretores mais conservadores do BC, Mário Mesquita (Política Econômica) e Mário Torós (Política Monetária), estiveram reunidos com analistas para colher impressões sobre o crescimento e, principalmente, sobre as perspectivas inflacionárias. Nos dois encontros, a maioria dos especialistas informou apostar em retração do PIB em 2009. Como de praxe, nem Torós nem Mesquita emitiram sinais sobre a visão do BC, mesmo com os profissionais de mercado insistindo que, talvez, o BC seja obrigado a aumentar a Selic em 2010 por causa de pressões inflacionárias. Em relação ao PIB, porém, ficou visível que o BC insistirá em previsão de alta neste ano, pois seria desastroso se, neste momento, a instituição jogasse a toalha. O desânimo seria geral. (VN)