Título: Não há expansão em escala sem esse tipo de inconveniente
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 27/06/2010, O País, p. 16

O ministro da Educação, Fernando Haddad, reconhece os problemas que acompanham a expansão do ensino profissional no Brasil. Ele diz acreditar que, nas próximas décadas, as escolas técnicas responderão por 50% das matriculas do ensino médio no Brasil.

Roberto Maltchik

O GLOBO: Enquanto o número de escolas aumenta, muitas continuam com problemas estruturais. Como o senhor avalia essa situação? FERNANDO HADDAD: Ouço objeções desse tipo. Tanto sobre a expansão das universidades, quanto dos institutos federais.

Entendo que são absolutamente justas.

O papel da imprensa e da sociedade é reivindicar condições ótimas de ensino.

Contudo, é preciso notar que pouco tempo atrás nós estávamos lamentando o sucateamento dessa rede. Não há expansão em escala sem esse tipo de inconveniente.

Eu prefiro sentir as dores do parto da expansão do que sentir as dores do sucateamento do ensino profissional.

Existem críticas também à qualidade do ensino das escolas técnicas. Como evoluir? HADDAD: Basicamente, vamos evoluir com a ampliação das licenciaturas. Uma vez que você vive uma expansão vertiginosa da educação profissional do país, você tem que zelar para que as licenciaturas atendam as escolas de maneira adequada.

O objetivo das inaugurações é eleitoral? HADDAD: Evidentemente que o objetivo não é esse. O objetivo do presidente Lula, e o compromisso de sua campanha, é que cada cidade polo no Brasil tivesse uma instalação federal de educação profissional. Para o presidente bater o recorde de inaugurações, bastaria fazer 30 (o governo Lula afirma ter construído 144 escolas). Quem fez mais depois dele, fez 27.

O aluno do ensino profissional está sendo bem absorvido pelo mercado de trabalho? HADDAD: Há pesquisas sobre trajetória do aluno egresso dos cursos técnicos.

Esses dados são significativos e mostram uma sintonia grande entre formação, emprego e ocupação. O nível de empregabilidade é altíssimo.

Como senhor avalia a proposta do exgovernador José Serra, exibida no programa eleitoral dele, de criar um ProUni do ensino profissional? HADDAD: O ProUni da educação profissional teria pouco impacto. O número de escolas privadas de ensino técnico é muito pequeno, é uma fração mínima.

Mas é importante, até interessante notar que, seis anos atrás, a oposição ingressou no STF para que o Supremo declarasse a inconstitucionalidade do programa. Agora, passa a defendê-lo. Eu fico feliz.

A expansão chegou no limite? HADDAD: Acredito que não. Acho que podemos ter, em um período de tempo, 50% das matrículas do ensino médio nas escolas profissionalizantes.