Título: Dívida bruta volta a preocupar
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 22/06/2010, O País, p. 11

O conceito de dívida bruta, que subiu fortemente nos últimos anos em parte por causa dos empréstimos do governo ao BNDES, entrou em desuso nos anos 1990, quando passou a ser mais utilizado o conceito de dívida líquida ¿ ou seja, o total da dívida bruta menos reservas internacionais e outros ativos de um país. Entretanto, a crise financeira mundial, agravada em setembro de 2008, fez com que economistas voltassem a olhar para o dado com atenção.

Isso por um motivo muito simples: em situações de crises globais, o que importa é o valor total da dívida. É que em momento de forte estresse, as próprias reservas internacionais ¿ normalmente em títulos de países desenvolvidos ou moedas ¿fortes¿, como o dólar e o euro ¿ acabam se desvalorizando.

Ou seja, embora os ativos sejam importantes em períodos de bonança, já que possuem pouca variação em seu valor e alta liquidez, em situações de crise podem passar a valer bem menos e até, dependendo da extensão do problema, sofrerem dificuldades para serem negociados no mercado financeiro global.

Em situações como essas, o conceito de dívida líquida se torna irreal, e o endividamento bruto passa a ser mais confiável como parâmetro.

Mas por que o BNDES ajudou o país a se endividar? Com o crescimento dos desembolsos, que tornou as fontes primárias de financiamento do banco de fomento insuficientes, o BNDES precisou recorrer ao Tesouro Nacional . Em troca, paga dividendos à União. Desde a constituição de 1988, ao menos 40% dos recursos arrecadados no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) são destinados ao banco de fomento, para incentivar o financiamento de Programas de Desenvolvimento Econômico.

Outra fonte para o BNDES é o Fundo Nacional de Desenvolvimento.

Estas fontes, entretanto, não foram suficientes para fazer frente às necessidades do banco. O desembolso do BNDES, que em 2000 somou R$ 23,4 bilhões, foi multiplicado por cinco até 2009, quando chegou a R$ 137,4 bilhões.

Com isso, a instituição se transformou em um dos maiores bancos de fomento do mundo. A expectativa é que, neste ano, os financiamentos continuem no patamar entre R$ 130 bilhões e R$ 140 bilhões.

Economistas do banco preveem que a instituição precisará de injeção externa de recursos ainda em 2011.

Após este período, estimam, o banco poderá a voltar a andar com as próprias pernas, ou seja, com os recursos do FAT e com o retorno dos empréstimos já concedidos. Entretanto, novas iniciativas, como a retomada na construção de grandes hidrelétricas e projetos como o trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo ¿ que sozinho poderá exigir investimentos de mais de R$ 30 bilhões ¿ apresentam um risco a estas estimativas do banco.

Para a volta da ¿autossuficiência¿, a entidade estima que haverá uma nova baixa da taxa Selic (juros), facilitando que os bancos financiem a longo prazo, além de um incremento no mercado de capitais, ou seja, as empresas poderiam se financiar mais a partir da bolsa de valores.