Título: Pobres e ricos ainda distantes
Autor: Melo, Liana ; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 27/06/2010, Economia, p. 35

Resultados da POF divulgados pelo IBGE confirmam fatos bem conhecidos: o Nordeste é a região mais pobre, com despesa familiar média de R$ 1.700, em contraste com valores superiores a R$ 3.000 no Sudeste e no Sul; o Distrito Federal é a unidade da federação com maior despesa familiar média; as áreas rurais são mais pobres do que as urbanas. Note-se que comparações baseadas na despesa ou na renda familiar subestimam as diferenças entre valores per capita: as famílias mais pobres são, em média, maiores.

Os dados confirmam a Lei de Engel, que afirma que a proporção da renda gasta com alimentos diminui quando a renda cresce.

No Brasil, a participação dos alimentos no total das despesas de consumo cai de 33,9% em 1974/75 para 19,8% em 2008/09. Na última POF, a participação dos gastos com alimentação na despesa total é 27,8% para os relativamente pobres (rendimento familiar até R$ 830) e é 8,5% para os relativamente ricos (acima de R$ 10.375).

A nova POF permite quantificar o substancial aumento na importância da alimentação fora do domicílio. Nas áreas urbanas, já representa 33,1% do total das despesas com alimentação. Em 2002/03 era de 25,7%.

Para os relativamente ricos, os gastos com alimentação fora do domicílio já são 49,3% da despesa total com alimentação. No prazo de duas gerações, ocorre uma revolução dos hábitos alimentares que exige novos conhecimentos para fazer escolhas racionais e melhor legislação disciplinando a produção, a distribuição e a propaganda.

Como medida do grau de desigualdade, o IBGE apresenta a relação entre a despesa per capita dos 10% de famílias mais ricas e dos 40% mais pobres, que era igual a 10,1 na POF de 2002/03 e baixou para 9,6 na nova POF, indicando redução na desigualdade. O que é coerente com o que mostram os dados na PNAD: de 2001 a 2008, ocorre queda sistemática na desigualdade da distribuição da renda no Brasil. Usando os dados da PNAD sobre a distribuição do rendimento domiciliar per capita, verifica-se que a relação entre as rendas médias dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres é 23 em 2001, 21,9 em 2002, 19,5 em 2004, 18,3 em 2006 e 16,8 em 2008.

Uma novidade dessa POF é que permite separar as aposentadorias e pensões de funcionários públicos das do INSS. As primeiras são muito mais importantes para os relativamente ricos, enquanto o INSS é muito mais importante para os relativamente pobres.

Essa dualidade do sistema oficial de aposentadorias e pensões faz com que o conjunto desses pagamentos contribua para manter o elevado grau de desigualdade da distribuição da renda no país. Note-se que essa afirmativa não é contraditória com o fato de que a grande expansão do sistema de aposentadorias nos últimos 20 anos contribuiu muito para a redução da pobreza.

Rodolfo Hoffmann Professor do Instituto de Economia da Unicamp