Título: Sem barba, sem garantias e sem ânimo
Autor:
Fonte: O Globo, 27/06/2010, O Mundo, p. 37

TÓQUIO. As conquistas profissionais das japonesas estão atrasadas, mas a vida tampouco anda fácil para os homens. A crise financeira enterrou o sonho do emprego vitalício em grandes corporações. Para fugir do desemprego, é cada vez maior o número de japoneses que sobrevivem com trabalhos temporários, sem as mesmas garantias trabalhistas e, principalmente, a certeza da aposentadoria segura. Mas essa nova realidade não tornou os códigos de conduta mais flexíveis. O mercado japonês é rígido. O último debate nacional gira em torno da barba.

Em maio, a cidade de Isesaki baniu os funcionários públicos barbados, alegando que eles não pareciam ¿decentes¿. O governo central teve de se pronunciar, afirmando desconhecer as bases da proibição, mas empresas privadas confirmam que tampouco permitem funcionários de barba. Na Seven Eleven, empregados que aparecem barbados são demitidos. A Companhia de Serviço Postal do Japão foi obrigada pela Justiça a indenizar um trabalhador que tivera o salário reduzido por usar barba. Na Disney de Tóquio, só um funcionário pode deixar o barbeador de lado: o ator que faz o Capitão Gancho. Mas a empresa garante que a regra é igual nos EUA. Nem no esporte a coisa é menos tradicional. O time de beisebol Yomiuri Giants proíbe as barbas.

Tanta formalidade, além dos sistemas rigidamente hierárquicos, começa a desanimar os universitários, que, pela primeira vez numa pesquisa realizada anualmente, colocaram uma companhia estrangeira como o nome que mais os atrai na hora de buscar emprego: a Google. A gigante da web ficou na frente da Sony e da Toyota ¿ duas marcas sagradas para os japoneses.

¿ Os homens da nova geração já não sonham mais com o estilo de vida de seus pais, que não tinham hora para voltar para casa. Eles querem mais tempo com a família ¿ diz o sociólogo James Farrer.

Outro costume do universo masculino japonês vem sendo arrasado pela crise: antes eram comuns as noitadas em boates com mulheres pagas para beber, conversar e dançar com os homens, as hostesses. Hoje, o sarariman típico já não pode se dar a esse luxo. (C.S.)