Título: Sexo frágil? Não em Israel
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 25/06/2010, O Mundo, p. 34

Anúncio em jornal recruta mulheres fortes para a remoção de manifestantes em flotilha

TEL AVIV. ¿Procuram-se mulheres com grande força física e motivação para remoção de mulheres da flotilha de socorro do Hezbollah com destino a Gaza¿. O texto do pequeno anúncio em preto e branco, publicado nos últimos dias nos classificados dos principais jornais e sites de emprego do país, fez muita gente arregalar os olhos em Israel.

Será que o Exército ou o Shin Bet ( serviço de segurança nacional) estariam recrutando, através de simples anúncios de jornal, ¿amazonas¿ para participar da interceptação do barco libanês Mariam? A embarcação ¿ descrita, no anúncio, como tendo ligação com o grupo islâmico Hezbollah ¿ pretende furar, nos próximos dias, o já moribundo bloqueio econômico à Faixa de Gaza com cerca de 70 mulheres a bordo.

A autoria do anúncio, assinado apenas por uma ¿organização de segurança¿, é desconhecida, o que aumenta ainda mais o mistério. Além de assinalar que o trabalho é ¿voluntário¿, o anúncio traz um telefone de contato. Do outro lado da linha, no entanto, uma secretária eletrônica com uma voz feminina declama: ¿Estamos procurando mulheres de todas as idades para ajudar na retirada de ativistas de futuras flotilhas. Se você está em boa forma e não tem medo de desafios, por favor diga seu nome e telefone, idade e experiência no ramo. Um representante entrará em contato. Obrigada por seu interesse por uma causa tão importante¿, orienta a mensagem.

O GLOBO deixou um recado, mas não foi contatado. O mesmo aconteceu com os emails divulgados nos sites de busca de emprego.

O anúncio é tão genérico que muitos acreditam ser apenas um trote. Mas não o respeitado blogueiro americano Richard Silverstein, do site ¿Tikun olam¿. Citando uma fonte israelense, ele afirma que o recrutamento é verdadeiro e está sendo feito pelo Shin Bet.

¿Minha fonte é impecável e recebi (a informação) de duas pessoas em separado¿, escreveu Silverstein. ¿O problema com a situação de Israel é que ela é tão extrema, tão bizarra, que coisas que em qualquer outro lugar seriam paródia são a verdade nua e crua por lá¿.

O Exército negou envolvimento, mas admitiu que está treinando 20 guardas de fronteira femininas para lidar com o barco libanês. O governo de Israel já avisou que não vai deixar o Mariam (ou qualquer outra embarcação) chegar ao território palestino, mas teme que haja confronto entre soldados e as manifestantes a bordo, a exemplo do que aconteceu no começo do mês com o navio turco Mavi Marmara, quando nove ativistas (todos homens) morreram.

Ao jornal israelense ¿Yediot Ahronot¿, uma fonte militar afirmou que as policiais femininas ¿podem lidar de maneira melhor com as manifestantes, especialmente diante da expectativa de que a interceptação, se ocorrer, acontecerá em frente às câmeras¿.