Título: França para contra aposentadoria aos 62 anos
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Fonte: O Globo, 25/06/2010, Economia, p. 32

Sindicatos estimam manifestantes em quase 2 milhões e governo, em 800 mil. Ministro diz que proposta não muda

EM MARSELHA, as manifestações contra a reforma na aposentadoria reuniram 120 mil, segundo os sindicatos

PARIS. O dia nacional de mobilização contra a reforma nas aposentadorias, convocado pelos sindicatos franceses, atrapalhou ontem o funcionamento dos transportes e serviços públicos. Os sindicatos estimaram que 1,92 milhão de pessoas foi às ruas. Os cálculos do Ministério do Trabalho foram mais modestos: 797 mil ¿ ainda assim, bem mais que os 395 mil registrados na manifestação do mês passado.

Em Paris, os protestos reuniram 130 mil pessoas, de acordo com os organizadores, e 47 mil, segundo a polícia. Houve manifestações em 200 cidades. Em Marselha, as estimativas dos organizadores foram de 120 mil, e as da polícia, 14.500. Em Bordeaux, as projeções ficaram entre 25 mil e 70 mil.

O ministro do Trabalho, Eric Woerth, disse que a manifestação foi forte mas não como as de 2003, quando houve outra tentativa de mudar o sistema previdenciário.

¿ Não é um alerta para o governo ¿ afirmou Woerth, acrescentando que o Executivo não voltará atrás na proposta de elevar a idade mínima da aposentadoria de 60 a 62 anos.

O primeiro-ministro, François Fillon, prometeu dar hoje uma entrevista coletiva sobre a reforma e a paralisação.

Sarkozy é criticado por receber seleção `grevista¿

Mas o secretário-geral da CGT, Bernard Thibault, disse que Sarkozy deveria tomar a sábia decisão de retirar o projeto do Congresso. Ele e outros líderes sindicais prometeram manter a pressão nos próximos meses, apesar de ser o período das férias de verão na França.

¿ A mobilização contra a reforma das aposentadorias só começou ¿ disse Thibault ao site lefigaro.fr. ¿ Vamos ocupar os lugares de férias dos trabalhadores e as empresas. Vamos criar condições para que essa reforma não passe.

Já Martine Aubry, primeira secretária do Partido Socialista, de oposição, criticou o que chamou de ¿atitude insolente¿ do presidente Nicolas Sarkozy de receber o atacante da seleção francesa, Thierry Henry, em pleno dia de mobilização. O fracasso da seleção francesa na Copa gerou muita polêmica no país.

A decisão de Sarkozy motivou uma alfinetada de Thibault. Ele disse ao site do ¿Le Figaro¿ que, ¿se 23 grevistas (referindo-se ao boicote que a seleção fez aos treinos) conseguem mudar a agenda do presidente, então talvez os representantes sindicais possam ser recebidos¿ (por Sarkozy).

¿ Os franceses querem uma reforma, mas que seja justa e resolva os problemas (do déficit), o que não é o caso hoje ¿ disse Martine à rede TF1.

Greve afeta trens, metrô, escolas e serviço público

Os sindicatos argumentam que o déficit orçamentário se deve à crise econômica e que as medidas propostas pelo governo só vão transferir a conta para os trabalhadores. A oposição tem a mesma opinião.

A greve afetou os transportes e serviços públicos. Segundo a empresa de estradas de ferro SNCF, quatro em cada dez ferroviários pararam. A circulação dos trens de alta velocidade ficou reduzida à metade. Em Paris, um em cada quatro trens do metrô deixou de circular.

Nas escolas, a paralisação foi de 19,96% na média ¿ 31,87% no ensino básico e 10,27% no médio. Segundo o Ministério do Trabalho, 18,7% dos funcionários públicos pararam.

oglobo.com.br/economia