Título: Mantega fala em prudência e diz que país não deve crescer mais de 5,5%
Autor: Berlinck, Deborah ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 29/06/2010, Economia, p. 22

BIS: para evitar nova crise e dívidas, ricos devem conter estímulo e fazer cortes

TORONTO, PARIS e BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu um patamar mais "prudente" de expansão da economia no ano que vem. Depois de um 2010 de forte recuperação, em que economistas estimam crescimento em cerca de 7%, ele recomenda que o país não cresça mais de 5,5%.

- Depois de um ano forte, o seguinte tem de dar uma ajustada, mas acho que 5,5% é uma taxa possível (de se alcançar sem provocar inflação). Em 2012, já dá para voltar para 6%, 6,5% - disse à agência Reuters. - Prefiro crescer um pouco menos e manter o equilíbrio macroeconômico. Não é muito prudente crescer mais que isso.

Em Toronto, no Canadá, onde substituiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do G-20, Mantega levantou a bandeira dos países emergentes e dos EUA de que, para o bem da economia global, é necessário que o mundo cresça. A tese encontra resistência entre os europeus, que defendem um aperto das contas públicas, diminuindo estímulos.

Sarkozy anuncia cortes e fim da recepção no Eliseu

Para o ministro, é prematuro eliminar estímulos e seguir na linha do aperto severo, sob o risco de comprometer parte central da engrenagem econômica mundial. Ele considera que é possível encontrar equilíbrio entre crescimento e ajuste, desde que haja metas razoáveis de redução gradual de gastos.

Na contramão do que diz Mantega, relatório anual do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais) destaca que o sistema financeiro continua vulnerável e que a economia mundial pode sofrer nova crise, se os países ricos não retirarem agora os estímulos e continuarem se endividando. "Apoio macroeconômico tem limite."

Já os países emergentes, para o BIS, vivem o "perigo" de um superaquecimento e da pressão inflacionária. Sem citar nomes, recomenda aperto da política monetária e flexibilização do câmbio, numa alusão à China.

Para o BIS, a dívida privada que provocou a crise no crédito há dois anos foi substituída pela dívida pública na Europa e nos EUA. Os países teriam mais dificuldades de combater uma nova crise agora, já que "a política macroeconômica está numa posição muito pior". Já as baixas taxas de juros no mundo rico estão "num nível insustentável".

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, ameaçou ontem seus ministros de sanções em caso de uso abusivo do dinheiro público. Além de confirmar o fim da recepção no Eliseu pelo 14 de Julho, em carta ao premier François Fillon, ele anunciou cortes de gastos excessivos e desncessários. Até 2013, por exemplo, serão cortados, gastos com 100 mil veículos e 7 mil residências.

Já a expectativa de crescimento econômico no Brasil continua avançando, mas o mercado conta com inflação cada vez menor. De acordo com a pesquisa semanal Focus do Banco Central, divulgada ontem, os economistas estimam que o IPCA fechará o ano a 5,55%, abaixo dos 5,61% calculados antes. Para 2011, as perspectivas não mudaram: 4,80%, pela 11ª semana seguida.

Focus aposta em alta da Selic em 0,75 ponto em julho

O mercado aposta que, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, no fim de julho, haverá outro aumento na Selic - hoje em 10,25% -- de 0,75 ponto. Para o fim do ano, as projeções são de que a taxa básica de juros estará em 12%. Para o fim de 2011, as contas permaneceram em 11,75%.

Os economistas melhoraram as previsões de crescimento econômico em 2010 para 7,13% do PIB, ante os 7,06% do levantamento anterior. Em 2011, a atividade crescerá 4,50%, mesmo patamar há 29 semanas.

Com agências internacionais