Título: Ex-delegado confirma ter sido procurado para espionar Serra
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 18/06/2010, O País, p. 4

Onézimo diz que jornalistas ligados à campanha de Dilma queriam investigação

BRASÍLIA. O delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa reafirmou ontem, em depoimento na Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional, que foi procurado pelos jornalistas Luiz Lanzetta e Amaury Ribeiro Jr. ¿ o primeiro era contratado pela campanha presidencial petista ¿, para investigar o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e um suposto grupo ligado ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ). Onézimo disse que, entre os alvos da investigação, estariam também os petistas Rui Falcão e Valdemir Garreta, rivais de Lanzetta na equipe da campanha da ex-ministra Dilma Rousseff.

¿ A investigação seria sobre o fogo amigo (vazamento de informação da campanha de Dilma Rousseff), e o alvo principal seria o candidato José Serra ¿ disse Onézimo. ¿ De pronto reagi e usei a expressão: vocês querem editar o aloprados 2 (o caso do falso dossiê sobre corrupção que seria usado por petistas contra candidatos tucanos na eleição de 2006, em São Paulo)? E a partir daí não tinha mais clima para a conversa.

Disse ainda que recebeu uma proposta concreta, com pormenores, mas que não saberia dizer se as pessoas estavam autorizadas. E que foi procurado para ¿levantar tudo sobre¿ o candidato tucano.

¿ Fui convidado pelo PT.

Não prestei serviços ao PT.

Mas acabei ajudando o PT. Se esse pessoal tivesse ido em frente, as consequências teriam sido piores. Eu me informei que os três que compareceram à reunião eram ilustres desconhecidos. Se vieram individualmente ou em nome do PT é um problema deles.

Sobre a participação do exprefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, Onézimo afirmou que o convite inicial para trabalhar na campanha ¿teria partido dele¿.

¿ Quem se apresentou como representante do senhor Pimentel foi o Lanzetta. O outro foi apresentado como a pessoa que seria responsável por efetuar os pagamentos, que se apresentou como Bené ¿ disse. Pimentel, coordenador da campanha de Dilma, nega participação.

¿Houve uma proposta de R$ 160 mil por mês¿

Durante o depoimento, o exdelegado falou de suas relações com ex-colegas da Polícia Federal, citando o senador Romeu Tuma e o deputado Itagiba.

Ele repetiu sua versão sobre o que seria o contrato.

¿ A conversa inicial foi no sentido de prestar serviços ao PT. Faria um contrato por dez meses. Seria a proteção da casa, proteger as instalações físicas.

Houve uma proposta de R$ 160 mil por mês. No decorrer da reunião, teve outra proposta que considero indecente, que seria fazer um trabalho em cima do candidato concorrente. Então bati na mesa e disse: vocês querem reeditar os aloprados 2. Um deles (Amaury) disse que conseguiu dois tiros fatais contra o candidato (Serra).

Luiz Lanzetta e Amaury, que voltaram a negar ontem a versão de Onézimo, teriam feito a proposta num encontro entre eles em 20 de abril, num restaurante em Brasília. A reunião teve ainda a participação do sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Mathias, o Dadá, e do empresário Benedito de Oliveira Neto, o Bené. Onézimo se recusou, no entanto, a responder se gravou a conversa com Lanzetta, Amaury, Dadá e Bené.

¿ Isso é matéria de defesa ¿ disse Onézimo, quando Itagiba perguntou se ele queria comprovar o que estava dizendo.

Onézimo contou ainda que, depois de tornar pública a denúncia contra o grupo de Lanzetta, recebeu uma ameaça velaAndré Coelho ONÉZIMO SOUSA, DE óculos escuros, depõe sobre suposto dossiê contra o PSDB: ¿Fui convidado pelo PT¿ da de morte por e-mail.

¿ Na mensagem que recebi pela internet, isso (a denúncia) iria me transformar em nome de parque. Na hora não entendi. Não conheço bem São Paulo. Depois entendi que seria assassinado como o prefeito de Santo André Celso Daniel ¿ disse Onézimo.

O delegado aposentado, que hoje atua como investigador particular, disse ainda que quem iria pagar pelo contrato de produção de dossiês seria Bené, um dos donos da empresa Dialog. A empresa é investigada por supostas irregularidades em contratos com o governo federal.

Bené é uma espécie de sócio informal de Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, empresa que prestava serviços à campanha da ex-ministra. Depois da divulgação do encontro com Onézimo, o contrato da Lanza com a campanha foi suspenso.

¿ O importante aí é investigar a triangulação de recursos para a campanha ¿ disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).