Título: Só dou (entrevista) uma vez por dia
Autor: Portela, Marcelo
Fonte: O Globo, 18/06/2010, O País, p. 10
Na Bélgica, Dilma se encontra com presidente da CE
PARIS e BRUXELAS.
A primeira viagem à Europa de Dilma Rousseff como candidata do PT à Presidência está sendo uma prova de fogo para a imprensa. Logo no primeiro dia, em Paris, um almoço virou um desaparecimento de sete horas: ninguém da sua assessoria quis dizer em que lugar estava a candidata. Uma visita a um museu, improvisada e sem aviso, virou um tumulto.
Ontem, repórteres percorreram a Champs Elysées depois que fotógrafos acharam Dilma numa farmácia comprando escova. Em vão.
Após dias de desencontros e desinformações por parte da assessoria, a candidata falou ontem da sua relação com a imprensa numa entrevista improvisada, a poucos metros da porta do trem-bala que a levou para Bruxelas.
¿ Hoje a senhora vai dar uma entrevista para a gente? ¿ perguntou um repórter.
¿ Depende, uai. Se eu conseguir, depois de falar com o Barroso (José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia).
¿ A senhora não gosta muito da imprensa, não é? ¿ insistiu o jornalista.
¿ Não acho nem mal nem ruim. Não tenho por que dar entrevista três vezes por dia. Eu dou uma vez por dia.
Um jornalista lembrou que o assédio tende a piorar. Ela respondeu: ¿ Isso é o que vocês querem. Eu quero uma vez por dia.
Depois de repetidas respostas usando a frase ¿só dou (entrevista) uma vez por dia¿, Dilma revelou por que não divulga os horários de seu itinerário nesta viagem: ¿prudência¿.
Até o último momento, os repórteres não sabiam ontem se ela embarcaria no trembala das 15h para Bruxelas.
Dilma surpreendeu embarcando na segunda classe ¿ o que causou novo tumulto: os passageiros se queixaram do barulho e dos repórteres.
Na volta para Paris, um repórter comprou um bilhete de segunda classe, certo de que ficaria num vagão perto de Dilma. A candidata passou por ele e perguntou: ¿ E você, vai de quê? ¿ De segunda classe ¿ respondeu.
¿ Pois eu consegui de primeira ¿ disse, sorrindo e mostrando seu bilhete.
Em Bruxelas, Dilma se reuniu com Durão Barroso e reiterou a posição do Brasil de não aceitar uma taxa global sobre os bancos, proposta da União Europeia (UE) para evitar que contribuintes paguem bilhões de dólares para salvar instituições financeiras de crises. A UE espera convencer o Brasil na reunião do G-20, semana que vem, no Canadá, a aceitar a taxa.
¿ Não podemos pagar por aqueles que tiveram uma prática bancária muito frouxa. Não podemos pagar por isso ¿ disse Dilma.