Título: BC vê economia acelerada e inflação em alta, contradizendo Mantega
Autor: Duarte, Patrícia; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 18/06/2010, Economia, p. 24

Para ministro da Fazenda, não há mais motivos para elevar os juros

BRASÍLIA. Mesmo com sinais de desaceleração do crescimento da economia, o Banco Central (BC) avalia que o cenário de inflação para 2011 se deteriorou, levando o mercado a apostar que o ritmo de elevação da Taxa Selic ¿ que subiu 0,75 ponto percentual em abril e maio ¿ vai ser mantido pelas próximas duas reuniões. A avaliação da autoridade monetária está na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, porém, fez ontem uma avaliação distinta, afirmando que a inflação deixou de ser um problema que justifique a adoção de medidas para segurar a expansão da economia, como a alta dos juros.

Para Mantega, o país cumprirá a meta oficial este ano, cujo centro é 4,5% pelo IPCA, utilizando a margem de oscilação de dois pontos percentuais, para mais ou menos. O índice deverá ficar entre 5,3% e 5,4%, nos cálculos da Fazenda. Um dos motivos para o prognóstico é a certeza de que o ritmo de atividade está desacelerando.

O Copom, por sua vez, também vê desaquecimento, mas avalia que a economia permanece acelerada.

¿ Eu queria avisar que a inflação está caindo e dizer que nós vamos cumprir as metas de inflação para este ano.

Posso dizer aos senhores que o índice oficial, o IPCA, vai ficar bem comportado nos próximos meses ¿ afirmou Mantega à platéia de empresários presentes da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

O BC informou, sem revelar números, que a projeção da variação dos preços pelo cenário de mercado ¿ com expectativas levantadas junto ao mercado ¿ foi elevada, e está acima do valor central da meta (de 4,5% pelo IPCA) para 2011. Na ata anterior, de abril, o Copom havia afirmado que a projeção estava ao redor do centro da meta.

Para o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, trata-se de um sinal claro de que o BC deve manter a intensidade das altas na taxa básica de juros por mais tempo.

Teles deverá rever sua estimativa para a Selic neste ano, de entre 11,75% e 12% ao ano para 12,5% e 12,75%.

Lula: Brasil fará revolução produtiva se crescer 6% Mantega, porém, afirmou que ¿alguns se entusiasmaram¿ com o pico da inflação nos primeiros meses de 2010, mas essa ameaça já passou. Ele disse que o preço dos alimentos, vilões da inflação este ano, começou a ceder a maio, freando a variação do IPCA.

Segundo o ministro, isso mostra que ele estava certo quando atribuiu a pressão inflacionária ao choque de oferta.

Mas o BC classifica a atual pressão sobre os preços da economia como inflação de demanda e foi com este argumento que deu início, em abril, ao atual ciclo de alta dos juros.

Na semana passada, o comitê elevou a taxa em 0,75 ponto, para 10,25%, o segundo movimento dessa magnitude. Pela pesquisa Focus do próprio BC, o mercado prevê que os juros vão encerrar o ano a 11,75%.

¿ É muito cedo para falar em efeitos desinflacionários já ocorrendo ¿ afirmou Teles.

A grande preocupação do BC continua sendo com a demanda interna, que, na avaliação de seus diretores, cresce num ritmo maior do que a oferta, impulsionada pelos ganhos de emprego e renda, os impulsos fiscais e o crédito, com destaque para a concessão pelos bancos públicos. Por isso, o BC repetiu a necessidade de uma atuação incisiva no combate à inflação.

Mantega admitiu que alguns setores, como o da construção civil e de serviços, estão acelerados, mas negou que a situação esteja fora do controle.

Presente ao mesmo evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil terá uma revolução produtiva caso consiga crescer a cada ano de 5% a 6%. Para o presidente, este é o ritmo ideal para que a expansão incentive investimentos e não provoque gargalos nas empresas e desequilíbrios, numa referência à escalada da inflação.

Lula disse estar convencido de que o país tem, hoje, espaço para se desenvolver de forma sustentada.

¿ As duas coisas estão ligadas (crescimento e produção), mas o Brasil ainda tem espaço para crescer. Minha tese é muito singela: não quero que o Brasil fique crescendo no efeito sanfona ¿ disse Lula. ¿ O Brasil está dando um exemplo de seriedade, de economia sóbria, de economia serena, de crescimento.

Já Mantega disse que o Ministério da Fazenda está criando uma ferramenta de monitoramento, na boca do caixa, dos gastos do governo. A avaliar melhor a necessidade e a pertinência de cada um deles: ¿ Os gastos precisam ser mais bem avaliados