Título: Fundo Soberano comprará R$1,7 bi em ações do BB
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 18/06/2010, Economia, p. 25

Será a 1ª vez que recursos da "poupança" federal serão usados. Volume representa 22% do total a ser captado pelo banco

BRASÍLIA. Em sua primeira operação, o Fundo Soberano do Brasil (FSB), constituído para ser uma espécie de cofre para o governo poupar eventuais excedentes fiscais, vai ser usado no processo de capitalização do Banco do Brasil (BB). Ao todo, será desembolsado R$ 1,7 bilhão ¿ em valores atuais ¿ para comprar 62,5 milhões de ações da estatal na oferta primária que está sendo preparada e cujo período de reserva começa na próxima segunda-feira.

O volume representa 22% do total que o banco oferecerá ao mercado em forma de 286 milhões novas ações. O objetivo do BB é levantar cerca de R$ 8 bilhões, que serão usados para fortalecer a área de crédito e fazer novas aquisições, entre outros.

O uso do FSB ¿ cujo patrimônio está em torno de R$ 17 bilhões ¿ em processos de capitalização de estatais foi permitido pela medida provisória (MP) 487, de abril passado, que deu poderes ao Tesouro Nacional para transferir seus direitos de preferência em aumentos de capitais ao Fundo. A expectativa é que a transação que está sendo preparada para o BB se repita com a Petrobras, que também prepara uma capitalização bilionária.

O mecanismo serve ainda para aliviar as contas do Tesouro que, por causa do uso do dinheiro do FSB, não precisa utilizar seus próprios recursos ou emitir novos títulos para levantar capital, aumentando a dívida pública.

Tesouro pode gastar R$ 2,3 bi para manter fatia A compra das novas ações do BB pelo FSB, no entanto, não tira do Tesouro a necessidade de acompanhar a emissão primária com aporte próprio. Isso porque, hoje, o Tesouro possui sozinho 51,9% do capital total da estatal e não pretende reduzila, muito menos perder o controle do banco.

Por isso, e levando-se em consideração o preço da ação do BB (cerca de R$ 27), pode-se esperar eventualmente que o Tesouro tenha de desembolsar cerca de R$ 2,3 bilhões para manter a mesma fatia, somada com a que terá o Fundo. As ações do BB compradas pelo FSB ficarão em seu poder, e todos os direitos de acionistas ¿ como pagamento de dividendos ¿ entrarão no seu caixa.

O BB também prepara uma oferta secundária de ações ¿ ou seja, que pertencem aos acionistas controladores, cujo bloco representa 67,7% do capital total do banco ¿ para atingir o free float (fatia da empresa que tem de ser negociada na Bovespa) de 25%, segundo as regras do Novo Mercado. Hoje, o banco possui apenas 21,9%.

Já está decidido que o BNDESPar e a União vão se desfazer de cerca de 4% de suas fatias, sendo metade para cada um. Neste caso, a venda das ações que já existem ajuda no caixa dos acionistas