Título: Real só perde para o dólar no mercado futuro
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Fonte: O Globo, 18/06/2010, Economia, p. 25

Para Mantega, análise do BIS mostra solidez da economia. Analistas veem efeito de juros altos BRASÍLIA. O real é a segunda moeda com o maior número de transações no mercado global de derivativos, segundo relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais). Os contratos futuros e de opções ¿ aplicações sofisticadas que envolvem projeções para o comportamento dos juros, do dólar e das commodities (matérias-primas), por exemplo ¿ em moeda brasileira movimentaram US$ 140 bilhões no primeiro trimestre de 2010, uma alta de 41%.

Em apresentação ontem na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de empresários, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, festejou o resultado, afirmando que a posição reflete o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro e a solidez da economia nacional. A moeda do Brasil, salientou o ministro, só fica atrás do dólar (total de US$ 330 bilhões ao fim de março) como referência dos contratos de derivativos e está à frente do euro, do iene e da libra esterlina.

No entanto, para analistas, não há motivos para se orgulhar da posição, fruto da combinação de juros altos e capital especulativo no país.

Segundo Octávio Vaz, gestor de renda fixa da Global Equity, o forte crescimento tem origem nos elevados juros no Brasil, atualmente em 10,25% ao ano pela taxa básica Selic. Essa taxa atrai investidores estrangeiros para contratos futuros de DI, por exemplo, que remuneram com base na variação da Selic.

¿ O investidor monta operações no mercado de futuros e recebe como pagamento essa taxa estúpida de juros que temos no Brasil, um ganho que não teria em nenhum lugar do mundo ¿ explica Vaz.

Especialista ressalta que contratos são de curto prazo O ministro lembrou que o mercado de capitais brasileiro tem se fortalecido, e isso é importante para gerar recursos para investimento no país.

¿ As pessoas estão fazendo mais operações em reais do que em euros por motivos óbvios ¿ disse Mantega, em referência aos bons números da economia brasileira. ¿ Isso mostra que o real é uma moeda de transação internacional, possui respeitabilidade e segurança e impõe respeito em nível internacional.

Felipe Pellegrini, da Confidence Cambio, lembra que os contratos negociados são de curto prazo, o que significa que os investidores se valem da forte oscilação do mercado brasileiro para ganhar a curto prazo. E reaplicam o dinheiro diversas vezes, o que infla o volume.

Marcio Garcia, professor da PUC-Rio, diz que também pesa no grande volume de negócios com real no mercado futuro a regra do mercado brasileiro que restringe a bancos credenciados as operações no mercado à vista de câmbio. Isso leva investidores a negociarem contratos cambiais no mercado futuro, em que não há o limite.

¿ Isso concentrou as operações no mercado futuro, que movimenta seis vezes mais que o mercado à vista. E isso é fruto de uma distorção regulatória ¿ explica Garcia.

Segundo dados da BM&F Bovespa, o mercado futuro de dólar comercial movimentou R$ 33,969 bilhões por dia na média do ano, até 31 de maio. No mercado à vista, o recorde histórico foi de apenas US$ 292,5 milhões, atingido na última terça-feira