Título: AS DESCULPAS DO YUAN
Autor: Eichenberg, Fernando; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 26/06/2010, Economia, p. 26

Na semana passada, a China anunciou uma mudança na sua política cambial, uma ação claramente voltada para reduzir as pressões dos EUA e outros países na reunião do G-20 deste fim de semana. Infelizmente, a nova política não resolve a questão real, que é o fato de a China estar promovendo suas exportações às custas do resto do mundo.

Aliás, longe de representar um passo na direção certa, o anúncio chinês foi um exercício de má fé. Para manter baixa a temperatura da retórica, o governo Obama tem usado uma linguagem diplomática em seus esforços para convencer o governo chinês a mudar seu comportamento. Agora, os chineses responderam se apropriando da linguagem americana para evitar lidar com o aspecto substancial das reclamações dos EUA. Resumindo: eles estão fazendo encenação. Para entender o que está acontecendo, precisamos voltar um pouco mais ao básico da situação.

A política cambial da China nem é complicada nem é inédita, exceto por sua escala. É um caso exemplar de um governo que mantém o valor cambial do dinheiro artificialmente baixo, ao vender sua própria moeda e ao comprar moeda estrangeira. Essa política é especialmente efetiva no caso chinês porque existem restrições legais na movimentação de fundos dentro e fora do país, permitindo que a intervenção do governo domine o mercado de câmbio.

E a prova de que a China está, realmente, mantendo o valor de sua moeda, o yuan, artificialmente baixo é precisamente o fato de que o Banco Central vem acumulando dólares, euros e outros ativos estrangeiros ¿ até agora, mais de US$2 trilhões. Houve todo tipo de cálculos tentando mostrar que o yuan não está realmente desvalorizado ou, pelo menos, não tão desvalorizado. Porém, se o yuan não está tão desvalorizado, por que a China teve que comprar cerca de US$1 bilhão por dia de moeda estrangeira para impedir a valorização do yuan?

O efeito dessa desvalorização cambial é duplo: torna os bens chineses artificialmente baratos para os estrangeiros e torna os bens estrangeiros artificialmente caro para os chineses. Ou seja, é como se a China estivesse simultaneamente subsidiando suas exportações e impondo tarifas às importações.

Trata-se de um política bastante danosa numa época quando boa parte da economia mundial se mantém profundamente deprimida. Em tempos normais, se poderia argumentar que se a compra de títulos americanos pelos chineses distorce o comércio, pelo menos estaria suprindo os EUA com crédito barato ¿ e se poderia ir mais longe, afirmando que não é culpa dos chineses que os americanos usem esse crédito para inflar uma ampla e destrutiva bolha hipotecária.

O que significou então o anúncio chinês da semana passada? Bem, a China deixou o yuan subir ¿ mas quase nada. Isso é inaceitável. A China precisa parar de enrolar e mudar de fato. Se ela se recusar, então é hora de se conversar sobre sanções comerciais.

PAUL KRUGMAN é colunista do ¿New York Times¿