Título: Chuvas no Nordeste tiram Lula da reunião de líderes do G-20
Autor: Eichenberg, Fernando; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 26/06/2010, Economia, p. 26

Autoridades debaterão recuperação econômica e reforma dos bancos

Regulamentar o setor financeiro e encontrar o ponto ótimo entre os estímulos ao crescimento e o equilíbrio fiscal são os grandes desafios do encontro que reúne neste fim de semana, no Canadá, os chefes de Estado do G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta.

Há uma divisão clara de pensamento sobre a melhor forma de administrar o período póscrise global entre os líderes, e o Brasil está alinhado à posição dos EUA de privilegiar a retomada da atividade econômica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem que, diante da tragédia das chuvas no Nordeste, não irá à cúpula.

No menu do jantar de hoje oferecido pelo primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, aos chefes de Estado, uma questão será certamente debatida em todas as mesas: como implementar as necessárias medidas de ajuste fiscal e de controle orçamentário sem comprometer o ainda frágil crescimento econômico global pós-crise? Os americanos defendem a continuidade do incentivo ao crescimento, combinada com um ajuste gradual das contas dos governos, para não errar a dose do remédio e matar o doente, em vez de curá-lo. Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm enfatizado recentemente esta abordagem em discursos.

O ministro representará Lula em Toronto.

Reforma do FMI também será tema de debate Nas discussões sobre o caminho que deve ser percorrido pelas maiores economias para superar a crise de forma sustentada, do outro lado estão os europeus, liderados pela chanceler alemã, Angela Merkel, que chegou ao encontro ¿ que paralelamente reúne líderes do G-8 ¿ pregando uma ação mais forte no combate aos déficits fiscais.

Ela própria anunciou, há poucos dias, um corte drástico nas despesas públicas, para enfrentar a turbulência na zona do euro.

O risco de um ajuste muito rígido causar mais mal do que bem para as economias que ainda estão tentando sair da crise é o alerta que o Brasil e os EUA levam ao fórum. A experiência dos anos 80, quando a cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI) aprofundou a recessão em países submetidos a fortes ajustes fiscais, não pode ser esquecida, diz uma fonte brasileira.

A posição brasileira não exclui o ajuste fiscal, mas há uma preocupação grande com a calibragem das medidas e o prazo em que serão adotadas. A proposta do G-20 é tirar uma recomendação que seria endossada pelos países, como diretriz para a retomada do crescimento sem riscos de nova turbulência.

Segundo uma fonte, a expectativa brasileira é de que o encontro de Toronto resulte em uma ¿declaração equilibrada¿ sobre o tema.

¿ A ideia é que os europeus peguem um pouco mais leve em seus ajustes fiscais.

Os dois outros temas da pauta desta cúpula são o aumento da regulação e supervisão do sistema financeiro e a reforma do FMI, mas não há expectativa de que haverá grande avanço em relação aos dois pontos na reunião deste fim de semana, apenas uma reafirmação política dos chefes de Estado sobre a importância das medidas e confirmação dos prazos já definidos para implantação, que começam em novembro, na próxima reunião do G-20, em Seul.

Toronto foi tomada por forças policiais, como parte das medidas de segurança para acolher as delegações dos países do G-20. Mesmo assim, manifestantes usaram máscaras para protestar contra os líderes dos países ricos.