Título: NOVA ORLEANS AINDA SOFRE COM EFEITOS DO KATRINA
Autor: Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 26/06/2010, O País, p. 12

'Símbolo da incapacidade americana¿

NOVA YORK. Há pouco tempo, o prefeito de Nova Orleans, Mitch Landrieu, deixou os americanos em estado de choque ao fazer um balanço dos trabalhos de reconstrução da cidade, cinco anos após o furacão Katrina:

¿ Eu não queria que fosse assim, mas tenho que reconhecer que Nova Orleans virou símbolo da incapacidade americana, um símbolo da nossa inabilidade de reconstruir a cidade que foi devastada.

Em Nova Orleans, o medo venceu a esperança. Não é para menos: cinco anos depois que o Katrina destruiu 204.737 casas, com uma enchente que submergiu 80% da cidade, três das quatro grandes áreas atingidas encolheram drasticamente e continuam sem prazo para ter sua infraestrutura reconstruída.

Em agosto de 2005, a cidade tinha 485 mil habitantes: 67% de negros, 23% de brancos e o restante de outras etnias. Hoje, tem 300 mil: 58% de negros, 34% de brancos e o restante de outras etnias. O chamado embranquecimento de Nova Orleans é resultado do desafio de uma reconstrução hoje tida cada vez mais como inviável.

Só as áreas ricas da cidade, como o French Quartier, foram reconstruídas. Estas áreas foram também as menos atingidas. São bairros acima do nível do mar. As regiões pobres estavam abaixo do nível do mar, e quando as águas do Rio Mississipi juntaram-se às do lago Pontchartrain, rompendo as represas, foram as mais atingidas.

O programa de ajuda do governo, batizado de The road home, distribuiu US$8,4 bilhões para 127.159 famílias reconstruírem suas casas, em três anos. Cinco anos depois, a alta explosiva do preço do material de construção e a falta de investimentos em infraestrutura fizeram com que o plano naufragasse.

Nem esforços como a da Make it Right Foundation, criada pelos atores Brad Pitt e Angelina Jolie para ajudar na recuperação, reverteram o quadro: das 150 casas prometidas por Pitt, apenas 15 ficaram prontas. Empresas e moradores não querem voltar para áreas de alto risco. Sem empregos, infraestrutura e serviços básicos, não há cidade que sobreviva, sobretudo à sombra do medo de uma nova catástrofe.