Título: Ibope: Serra caiu e Dilma subiu no Sudeste
Autor: Camarotti, Gerson; Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 25/06/2010, O País, p. 13

Pesquisa, que mostrou petista à frente do tucano no país, revela que hoje ele só está liderando no Sul

BRASÍLIA. Em um período de pouco mais de 20 dias, entre o fim de maio e o último dia 21, duas pesquisas realizadas pelo Ibope apontaram mudança significativa na percepção do eleitor em relação à disputa presidencial, com oscilações das intenções de votos em todas as faixas de renda, escolaridade, classe social, gênero e também por região. Uma análise da pesquisa Ibope/CNI, divulgada anteontem ¿ a petista Dilma Rousseff aparece com 40%, contra 35% do tucano José Serra ¿ mostra queda no desempenho de Serra no Sudeste: de 41% para 36%, em relação à pesquisa de junho (Ibope/TV Globo). Já a petista subiu 4 pontos e passou de 33% para 37%. O tucano, ainda assim, está tecnicamente empatado com Dilma na região.

Serra está a frente de Dilma apenas na Região Sul, onde tem 42% das intenções de votos contra 34% da adversária ¿ nessa região ele caiu quatro pontos, e ela subiu oito.

A maior vantagem geográfica de Dilma é no Nordeste ¿ como o presidente Lula ¿, onde ela mantém os mesmos 47% da pesquisa anterior, contra 30% de Serra, que cresceu três pontos. Se considerar a popularidade de Lula na região, que passa de 90%, sua candidata ainda poderá crescer.

¿ É difícil falar que Dilma chegou a um teto no Nordeste.

Na região, a avaliação de Lula é acima do teto nacional. E a campanha não começou ¿ disse Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, ressaltando o crescimento da petista no eleitorado feminino: ¿ Na pesquisa anterior, havia um número maior de mulheres indecisas e que foram se decidindo em favor de Dilma. Até porque Serra não caiu nesse eleitorado.

Economia também ajuda Dilma, dizem especialistas Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), a queda de Serra no Sudeste pode ser uma consequência de problemas regionais e da aliança com parceiros complicados: ¿ Os vários problemas nos palanques regionais e brigas internas no PSDB podem ter influenciado na queda de Serra no Sudeste. Ainda há dificuldade no palanque do Rio e a aliança com Quércia em São Paulo.

Diante dos dados, os especialistas afirmam que se consolidou o poder de transferência de votos do presidente Lula e que o impasse sobre palanques do PSDB no Sudeste prejudicou o tucano. Serra perdeu votos e ampliou sua rejeição na região nas últimas três semanas.

Para o professor da UnB, a última pesquisa Ibope confirma claramente que Lula ajuda, e muito, sua candidata: ¿ Fica confirmada a força de transferência do presidente Lula. Além disso, também ajuda ( a Dilma) o bom momento da economia com o ¿PIBão¿ e a queda do desemprego.

Márcia Cavallari, diz que a petista se consolidou como a candidata governista, mas afirma que isso não ocorre apenas porque Dilma está colada em Lula.

¿ É possível afirmar que Dilma se consolidou como candidata da situação. Agora, não dá para afirmar que tudo o que ela tem é transferência de Lula. As coisas se misturam ¿ afirma Cavallari. ¿ O crescimento da Dilma é um espelho da oscilação da intenção de votos em Serra.

Também há um grande desejo de continuidade.

Os tucanos contavam com crescimento de Serra depois da exposição dele em programas partidários na TV entre a última quinzena de maio e a primeira quinzena de junho. Para Márcia Cavallari, o efeito da superexposição é mais favorável ao menos conhecido, porque chama mais a atenção.

¿ Para uma candidata que era menos conhecida, a exposição na TV tem mais efeito, porque há mais espaço para crescer.

Foi o que aconteceu com Dilma. Já Serra é o mais conhecido dos candidatos. Por isso, o efeito da exposição é menor.

Além da queda nas intenções de voto, um dado significativo da pesquisa é o da rejeição.

No cenário nacional, o Ibope indicou Serra com 30% de rejeição, e Dilma, 23%. O que surpreendeu até os tucanos é que a rejeição do ex-governador paulista na Região Sudeste é hoje praticamente a mesma registrada no Nordeste: 32% e 33%, respectivamente.

Contribuiu também para sua queda na pesquisa a rejeição de um grupo crescente da população brasileira, a chamada ¿nova classe C¿: 35% dos eleitores que ganham entre cinco e 10 salários mínimos afirmaram que não votam em Serra de jeito nenhum.

A maior rejeição a Dilma, considerando a renda dos entrevistados, é entre os classificados como ricos, aqueles que ganham mais de 10 salários mínimos (mais de R$ 5.100), batendo em 41%. Nesse eleitorado, a rejeição de Serra é menor do que sua média nacional, ficando em 29%.

Perguntada se, diante da alta popularidade de Lula, qualquer candidato da oposição teria o mesmo desempenho, Cavallari afirmou: ¿ O presidente Lula tem uma popularidade muito alta, e o país está num bom momento.

Agora, se o candidato (da oposição) tivesse um perfil diferente, acrescentaria outros ingredientes na disputa. Dilma e Serra têm o mesmo perfil: não são carismáticos, são dois técnicos e competentes.