Título: Entre a obra e o palanque
Autor: Bruno, Cássio; Victor, Duilo
Fonte: O Globo, 28/06/2010, O País, p. 3

ELEIÇÕES 2010

Em campanha, Cabral leva aliados para inauguração do PAC e oficializa candidatura

Cássio Bruno, Duilo Victor e Ediane Merola

Em clima de campanha eleitoral, o governador do Rio, Sérgio Cabral, usou ontem, na Rocinha, na Zona Sul, a inauguração de uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como prévia da convenção que oficializou, à tarde, a sua candidatura à reeleição pelo PMDB. Cercado por moradores e por políticos, como o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), vice na chapa da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, Cabral chamou a petista de "minha presidenta" e pregou a continuidade da parceria feita com o governo federal.

- Quero continuar junto com o governo federal, com minha presidenta Dilma e seu vice, Michel Temer. Continuar investindo muito em comunidades carentes, atraindo a iniciativa privada. O Rio deixou de ser o patinho feito da República, é um dos estados que lideram a recepção de recursos federais. Temos que nos espelhar no Lula - disse Cabral a jornalistas.

Na Rocinha, onde inaugurou uma passarela, o governador estava acompanhado também dos candidatos ao Senado Jorge Picciani (PMDB) e Lindberg Farias (PT). A comitiva incluiu o senador Francisco Dornelles (PP-RJ); os ministros das Cidades, Márcio Fortes, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

Militantes chegaram em ônibus fretados

Da favela, Cabral e os aliados foram para a convenção, realizada na Fundição Progresso, na Lapa. O governador foi recebido por militantes que chegaram ao local (com capacidade para cinco mil pessoas) em ônibus fretados por prefeitos, vereadores, e deputados estaduais e federais. Alguns convidados também desembarcaram em carros oficiais, como os dos prefeitos de Paraty, José Carlos Porto Neto, e de Paty do Alferes, Rachid Elmor.

No evento, que custou R$40 mil, Cabral fez promessas. A principal delas foi a ampliação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para regiões dominadas pelo tráfico de drogas e por milícias no subúrbio do Rio, na Baixada Fluminense e interior do estado. Com um discurso de 26 minutos, o governador alfinetou, sem citá-lo, seu adversário, o deputado federal Fernando Gabeira, candidato ao governo pelo PV, que defende a criação dessas unidades em outras áreas.

- Os oportunistas ficam de blablablá. Aí dizem: por que não tem UPP não sei onde? Porque não fizeram nada durante 40 anos. Nós estamos fazendo. Temos estratégia - disparou Cabral. - Nosso governo não tem acordo com milícia e nem com o tráfico de drogas. Chega de terrorismo. Fernando Gabeira não quis comentar o assunto.

Além das UPPs, Cabral disse construir novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), destacando a adoção do modelo em São Bernardo do Campo (SP) e um projeto para Buenos Aires. O pacote incluiu a instalação de aparelhos de ar-condicionado nas salas de aula de todas as 1.300 escolas estaduais. O anúncio foi feito na mesma semana em que a Assembleia Legislativa do Rio, presidida por Picciani, aprovou reajustes salariais a servidores estaduais propostos por Cabral.

Durante a convenção, acompanhada por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), o tom foi de reforçar a parceria de Cabral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desta vez, pedindo votos para Dilma Rousseff. Segundo o calendário eleitoral, no entanto, a campanha nas ruas só começa no dia 6 de julho.

- A partir de amanhã (hoje), temos que fazer campanha para eleger Dilma e Cabral - pediu Padilha.

Temer, por sua vez, disse que trouxe um recado de Dilma:

- Trago uma mensagem de Dilma: "Nós, eleitos, vamos continuar a parceria que o Lula fez no Rio".

O clima era de confiança entre os peemedebistas. Temer e Picciani apostaram na reeleição de Cabral no primeiro turno, em 3 de outubro.

- A vitória será no primeiro turno. Vai ser um massacre sobre os adversários - disse Picciani, candidato com mais material de campanha espalhado na convenção.

Com o slogan "Estamos juntos", o PMDB homologou 105 candidatos a deputado estadual e 93 a federal. No encontro, havia telões exibindo imagens de Cabral em inaugurações de obras ao lado de Lula e Dilma.

Apesar das divergências na pré-campanha, Picciani e Lindberg trocaram elogios, pedindo votos um para o outro. Ambos ficaram ao lado de Cabral e do vice-governador Luiz Fernando Pezão no palco. Na presença de Temer, Lindberg e Padilha ironizaram a crise na coligação do candidato à Presidência do PSDB, José Serra, em torno do nome do vice na chapa.

- Tenho orgulho de ter um vice que não divide e não gera crise na campanha - emendou Padilha.

Cabral lembrou da ampla aliança conquistada com 16 partidos. Disse ter o apoio de 91 dos 92 prefeitos do estado, exceto a de Campos, Rosinha Garotinho, mulher do ex-governador Anthony Garotinho (PR).