Título: Pleito atendido
Autor: Alvarez, Regina; Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 28/06/2010, Economia, p. 17

Mantega comemora: G-20 cortará déficit, mas estímulo ao crescimento será mantido

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, no encerramento do encontro do G-20, que os pleitos dos países emergentes estão totalmente contemplados no comunicado final da cúpula. O documento recomenda a redução pela metade dos déficits dos países avançados até 2013 e a estabilização ou a redução das dívidas até 2016, mas destaca que as medidas de estímulo ao crescimento devem ser mantidas de acordo com o calendário original, para não comprometer o avanço. Outro ponto em que houve avanços foi a consolidação da reforma do sistema financeiro mundial, que deverá ter seus objetivos finalizados até a cúpula de Seul, em novembro, para ser gradualmente implementada até 2012.

- Queríamos enfatizar a consolidação do crescimento. Isso foi aprovado por todos, com forte apoio dos EUA e dos demais países avançados. Nessa posição vencemos, os países vão continuar estimulando o crescimento - afirmou Mantega.

Por outro lado, não houve avanço no campo comercial. Segundo Mantega, o presidente dos EUA, Barack Obama, deixou muito claro que não concorda com a conclusão da Rodada de Doha (que liberalizaria o comércio mundial) nos termos atuais. Obama disse que sofre pressões políticas internas e sugeriu que se inclua no debate a liberalização dos serviços, com o que o Brasil não concorda.

- Se eles quiserem abrir a discussão para os serviços, vamos querer abrir para a agricultura, em que eles também não cederam. Há algum tempo não tenho muita esperança de que consigamos aprovar a Rodada de Doha. Mesmo assim devemos tentar, pois funciona como uma pressão para impedir que o protecionismo se instale - disse Mantega.

A cúpula dos países ricos e dos emergentes destaca que "se deve ir até ao fim nos planos de estímulo atuais e, ao mesmo tempo, trabalhar para instaurar as condições propícias para uma forte demanda privada". Mantega definiu como "ambiciosa" a meta de corte dos déficits, mas destacou que essa questão não pode ser ignorada. O Japão não se comprometeu com a meta, porque tem elevados déficit e dívida. O ministro citou França e Alemanha como países que podem cumprir a meta.

O comunicado destaca também que os países avançados precisam estimular seus mercados internos, o que foi considerado por Mantega mais uma vitória dos emergentes. Segundo ele, esse não é um problema do Brasil, que tem um mercado doméstico "que está bombando", mas é da China e de países avançados.

Protesto e prisões nas ruas de Toronto

Em relação a uma taxa bancária global, um desejo dos EUA e de outras economias avançadas, o comunicado final do G-20 deixou a critério de cada país a criação de taxações locais, mas sem mencionar um imposto mundial, que foi descartado.

- Concordamos em aumentar o capital dos bancos, controlar melhor os derivativos, fazer checagens periódicas e uma supervisão maior do sistema financeiro - explicou Mantega, destacando que as reformas do sistema financeiro vão diminuir o risco e a volatilidade dos mercados e aumentar a transparência das transações financeiras.

- O comunicado atende ao que o Brasil queria letra por letra, ponto por ponto - completou uma fonte, em relação às reformas financeiras.

A cúpula também ratificou a aceleração da reforma no Fundo Monetário Internacional, que tem também como prazo o próximo encontro em Seul, em novembro.

Segundo Mantega, vários líderes lamentaram a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas entenderam as razões:

- Todos manifestaram solidariedade e entenderam os problemas da chuva (as enchentes no Nordeste).

Enquanto os governos debatiam o futuro da economia mundial, as ruas de Toronto se transformavam numa espécie de praça de guerra. No fim de semana, cerca de 600 pessoas foram presas durante as manifestações contra o G-20. Ontem, no segundo e último dia da cúpula, a polícia chegou a usar bombas de gás lacrimogêneo para conter os manifestantes. Os presos foram levados para a antiga área portuária da cidade, onde fica um antigo estúdio de cinema. Os protestos começaram no sábado, quando grupos usando máscaras anarquistas quebraram janelas de lojas e de bancos e ainda atearam fogo a carros da polícia.

Segundo comunicado divulgado pelo chefe de polícia local, William Blair, "as únicas motivações (desse grupo) são violência e destruição, que têm chocado os que vieram a expressar suas opiniões de forma pacífica". Ele afirmou que serão investigados todos os crimes cometidos durante a cúpula, e que a polícia vai "rastrear e cobrar dos responsáveis". A operação de segurança montada pelo governo do Canadá custou cerca de US$1 bilhão.

(*) Com agências internacionais