Título: Brasil tenta incluir Irã na pauta
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Fonte: O Globo, 28/06/2010, O Mundo, p. 21

Lula deve pedir a Assad ajuda na questão nuclear de Teerã

BRASÍLIA.Menos de um mês depois de amargar uma derrota no Conselho de Segurança das Nações Unidas, quando Brasil e Turquia foram os únicos países a votarem contra a aplicação de nova rodada de sanções aos iranianos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe nesta quarta-feira seu colega sírio Bashar al-Assad. O encontro foi acertado em abril deste ano, num contexto diferente do atual: na época, predominava o interesse do Brasil como facilitador de uma negociação de paz entre israelenses e palestinos. Agora, não há como fugir da questão envolvendo a política nuclear do Irã, que tem a Síria como um de seus maiores aliados.

A agenda da visita de Assad ainda não foi divulgada pelo governo brasileiro, mas a expectativa é a de que o Irã entre na pauta. Segundo previu ontem um diplomata, espera-se que Lula peça a Assad que convença o líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad a manter sobre a mesa a Declaração de Teerã, que estabelece um acordo de troca de urânio levemente enriquecido por combustível entre o país persa e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

É a primeira visita do presidente sírio à América Latina

Brasil e Turquia são signatários do documento, firmado em 17 de maio último. Um ponto a ser explorado diz respeito à proposta da França que, embora tenha concordado com as novas sanções, passou a defender a retomada do diálogo entre o Irã e a AIEA.

Assad preside um país que, junto com o Irã, está em uma lista, formulada pelo Departamento de Estado americano, de nações que fariam parte do chamado "Eixo do Mal"; ou seja, aqueles que apoiariam o terrorismo. Para melhorar sua imagem, ele faz, pela primeira vez, um périplo na América Latina. Antes do Brasil, Assad visita a Venezuela e Cuba, e daqui seguirá para a Argentina.

O episódio que culminou na aprovação de novas sanções ao Irã acabou desgastando as relações entre Brasil e Estados Unidos. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, já avisou que só tentará mediar uma negociação se for oficialmente convidado pelos EUA. Washington esfriou as relações com Brasília, suspendendo os contatos, antes frequentes, com autoridades brasileiras.

EUA e Israel veem a Síria e Irã como inimigos em potencial. Afirmam que Damasco e Teerã financiam grupos radicais islâmicos - o Hezbolah, no Líbano; e o Hamas, na Faixa de Gaza, Palestina. Segundo uma fonte do governo brasileiro, preocupa também o fato de Assad ter adotado um discurso de advertência quanto à possibilidade de uma nova guerra no Oriente Médio, devido à operação militar israelense contra a frota de ajuda humanitária para Gaza.