Título: Ensino médio está pior do que o fundamental
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 02/07/2010, O País, p. 17

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica mostra avanço nas séries iniciais, mas, nas últimas, nota foi de 3,6

BRASÍLIA. O ensino brasileiro deu sinal de melhora, mas o avanço perde força entre os estudantes mais velhos. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2009 (Ideb), divulgado ontem pelo Ministério da Educação, mostrou que a maior elevação ocorreu nas séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), com aumento de 4,2 pontos, em 2007, para 4,6, em 2009, antecipando inclusive a meta estabelecida para 2011. Nas séries finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), o acréscimo foi de 3,8 para 4. O ensino médio teve o pior desempenho: a nota passou de 3,5 para 3,6, numa escala que vai de 0 a 10.

O Ideb é um indicador criado pelo MEC para medir a qualidade dos sistemas de ensino público e privado. Ele considera as notas dos alunos na Prova Brasil/Saeb e o índice de aprovação nas escolas. Para o MEC, o resultado foi positivo.

- O fantasma da queda de qualidade, que nos assombrou até o começo dos anos 2000, está ficando para trás - disse ontem o ministro Fernando Haddad, ao anunciar os resultados. - Estamos distantes da nossa meta final, mas estamos com uma trajetória consistente, já pelo quarto ano consecutivo. Não é hora de esmorecer. É tentar acelerar o ritmo das mudanças.

Avanço não significa bom nível das escolas

O avanço captado pelo Ideb não significa que o nível de aprendizagem nas escolas brasileiras seja bom. Longe disso. A Prova Brasil/Saeb, usada no cálculo do índice, avalia conhecimentos de português e matemática a cada dois anos. A nota média dos alunos do 5º ano do ensino fundamental em português foi de 184,3 pontos, numa escala de até 400. A nota dos estudantes do 3º ano do ensino médio foi 268,8, na escala até 800. Em todos os níveis, no entanto, houve progresso. Em 2009, apenas 75,9% dos alunos de nível médio passaram de ano. Nas séries finais, 81,3%. Nas iniciais, 88,5%. Os indicadores de fluxo também melhoraram em relação a 2007.

Ao criar o Ideb, o ministério reconheceu que o Brasil estava mais de uma geração atrás dos países desenvolvidos na área do ensino. Por isso, traçou como meta chegar a 2021, véspera do bicentenário da Independência, com o mesmo nível de aprendizagem atingido pelo mundo desenvolvido em 2003.

No modelo matemático que está por trás do Ideb, isso equivale a obter nota 6 no Ideb de 2021. De 2005, quando o índice foi calculado pela primeira vez, até 2021, foram traçadas metas bienais. São essas metas que foram superadas em 2007 e 2009.

Como o Ideb utiliza dados nacionais de avaliação e fluxo escolar, o ministério recorreu ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para definir os objetivos finais, levando em conta o desempenho de estudantes dos países desenvolvidos. Se tudo der certo, a almejada nota 6, que reflete o nível de aprendizagem de 2003 nas nações da OCDE, será alcançada em 2021 nas séries iniciais do ensino fundamental; em 2025, nas séries finais; e em 2028, no ensino médio.