Título: Indústria estagnou em maio
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 02/07/2010, Economia, p. 27

Taxa de investimentos deve atingir 19,4% do PIB, diz CNI

Fabiana Ribeiro, Eliane Oliveira e Martha Beck

RIO e BRASÍLIA. Para surpresa dos analistas, a produção industrial permaneceu estagnada de abril para maio, apontou o IBGE. Mas, frente à maio de 2009, o setor cresceu 14,8%. No ano, a expansão também foi de dois dígitos, de 17,3%. Em 12 meses, o avanço fora de 4,5%, no melhor desempenho desde novembro de 2008. Para os analistas, o dados não apontam para uma trajetória de forte desaceleração da atividade nos próximos meses e nem para mudanças no rumo da política monetária do Banco Central (BC).

De 16 atividades, 11 recuaram em maio. As maiores pressões negativas vieram de refino de petróleo e álcool (-4,6%), por causa de paralisações em refinarias; e alimentos (-1,7%), após alta de 8,3% nos últimos quatro meses. Já os impactos positivos saíram de bebidas (4,8%), material eletrônico e de comunicações (6,1%).

- Não fica configurado um arrefecimento: há setores em crescimento. Pode-se pensar em acomodação ou ritmo menos acentuado - afirmou André Macedo, economista do IBGE.

Para Luis Otavio Leal, economista do banco ABC Brasil, o desempenho pode ser "mais um ponto fora da curva do que uma prova cabal de desaceleração". Já, na opinião de Eduardo Velho, da Prosper Corretora, os números apontam para "uma pequena desaceleração" - ainda que o nível da atividade esteja próximo do recorde.

- Não há espaço para quedas na curva curta de juros: o viés do crescimento, a despeito da desaceleração em curso, ainda é elevado - disse Velho, para quem o nível de crescimento da produção e o PIB avançam acima do seu potencial, o que não é sustentável.

A equipe econômica considerou a estabilidade mais um reforço de que não há superaquecimento da economia. Segundo técnicos da área econômica, após aumento de 2,7% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, o segundo trimestre deve ter alta de 0,8% a 1,1%.

- A tese do superaquecimento já ficou velha - disse um técnico, acrescentando que, caso a economia cresça em torno de 0,8% por trimestre até o fim do ano, o PIB fica próximo de 7%.

No ano, vendas de veículos batem recorde e avançam 9% sobre 2009

Mas as vendas de carros volta a aquecer. Dados das montadores mostram que as vendas de veículos subiram 4,7% em junho, frente ao mês anterior. Foram vendidas 262.776 unidades, contra 251.087 em maio. No ano, foram 1.579.713 veículos, um recorde que representa alta de 9% sobre o primeiro semestre de 2009. A indústria prevê crescimento de 8% no ano.

Os investimentos vão aumentar 24,5% este ano, atingindo 19,4% do PIB, a mais alta desde os anos 70, quando a média era de 20% do PIB, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) - que reviu para cima projeções de seus principais indicadores. Acompanhando o BC, a CNI prevê aumento de 7,2% do PIB em 2010, enquanto a produção industrial crescerá 12,3%.

- Fecharemos 2010 com uma taxa de aumento dos investimentos superior a 2008 (18,1% do PIB) - disse Carlos Castelo Branco, economista-chefe da entidade.