Título: Quinze genes para viver nas alturas
Autor:
Fonte: O Globo, 02/07/2010, Ciência, p. 34

Quem não vive em grandes altitudes costuma sofrer com dores de cabeça, fadiga e enjôos quando vai a lugares a mais de 4 mil metros de altura. Os tibetanos, no entanto, não têm esses problemas, estão perfeitamente adaptados a viver numa região onde a concentração de oxigênio do ar é inferior em 40% àquela do nível do mar. Uma equipe internacional de cientistas acaba de descobrir um grupo de 15 genes cujas mutações observadas em tibetanos favoreceram a vida nas alturas. Uma adaptação genética de humanos a condições determinadas do meio ambiente.

Os cientistas compararam a dotação genética de 50 indivíduos tibetanos (descendentes de pelo menos três gerações de vida nas alturas) com os genomas de 40 chineses han, habitantes de Pequim. Identificaram, desta forma, cerca de 30 genes que apresentavam mutações características do povo tibetano ¿ a metade delas relacionada à oxigenação do organismo. O estudo foi publicado na ¿Science¿.

Um dos genes identificados nos tibetanos é o EPAS1, também conhecido como gene do superatleta por ser encontrado em desportistas de alto rendimento. A comparação permitiu determinar também que os tibetanos e os chineses han são descendentes de uma população comum, que se separou há 2.750 anos. Foi a partir daí que os posteriormente chamados tibetanos foram viver na montanha e se adaptaram a viver em grandes altitudes.

¿ Trata-se da alteração genética mais rápida já observada em humanos ¿ afirmou um dos líderes da pesquisa, Rasmus Nielsen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. ¿ E, para que tenha acontecido, muita gente deve ter morrido (dentre os que foram viver no Tibet) porque tinha a cópia `errada¿ dos genes.

Os cientistas observaram três parâmetros-chave: saturação de oxigênio no sangue, concentração de glóbulos vermelhos e conteúdo de hemoglobina. Os resultados mostraram que os tibetanos têm uma concentração de homoglobina no sangue inferior à dos han, embora a de oxigênio seja similar. A conclusão é que esses indivíduos estão bem adaptados a viver em alturas com uma baixa concentração de hemoglobina no sangue.