Título: O código da longevidade
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Fonte: O Globo, 02/07/2010, Ciência, p. 34

Pesquisadores identificam 150 genes que podem ajudar a chegar aos 100 anos

IDOSOS SAUDÁVEIS: a presença de genes associados à longevidade é mais importante do que ausência dos ligados a doenças

Chegar aos 100 anos de idade não é mesmo para qualquer um. Embora uma vida saudável, com uma dieta balanceada e exercícios físicos, ainda seja uma boa receita para envelhecer bem, fatores genéticos têm uma forte influência no caminho da longevidade, como mostra estudo publicado na edição desta semana da revista ¿Science¿.

Cientistas de Universidade de Boston (EUA) analisaram os genomas de mais de mil centenários e identificaram 150 traços genéticos que podem ajudar a prever se uma pessoa vai atingir idades avançadas com uma taxa de 77% de acertos. Os pesquisadores também descobriram 19 sequências de genes que podem levar algumas pessoas a alcançar uma sobrevida ainda maior. Com esses dados e o eventual barateamento do sequenciamento genético individual será possível para qualquer um saber se tem o potencial de chegar aos 100 anos.

¿ Estas assinaturas genéticas são um grande avanço rumo à genômica personalizada e medicina preventiva. No futuro, poderemos criar um método analítico que poderá ser útil para prevenir ou diagnosticar precocemente várias doenças, assim como personalizar a prescrição de remédios ¿ acredita o médico Tom Perls, um dos autores da pesquisa, fundador e diretor do New England Centenarian Study.

Estudo também ajuda na prevenção

Mas, mais do que apenas procurar por esses genes ligados à longevidade, os cientistas da Universidade de Boston também avaliaram se a ausência de variações genéticas relacionadas a algumas doenças também tinham algum papel no envelhecimento saudável dos centenários. Ao compararem os genomas deles com um grupo de controle, no entanto, descobriram haver pouca diferença, numa indicação de que a presença de traços genéticos ligados à longevidade é mais importante na ¿corrida¿ rumo aos 100 anos do que a ausência de predisposição a doenças.

¿Assim, prever o risco de doenças com base em variações genéticas associadas a elas pode não ser acurado e potencialmente é equivocado. Isso sugere que a longevidade excepcional pode ser resultado de um grande número de variações associadas a ela que contrabalançam os efeitos de variações ligadas a doenças e contribui para a compreensão das deficiências e mortes que afetam estes indivíduos no fim de suas longas vidas¿, escreveram os autores no artigo.

Em geral, os centenários mantiveram a boa saúde por mais tempo do que a média das pessoas, só desenvolvendo doenças ligadas à idade após os 90 anos, comentaram os pesquisadores. O estudo, iniciado em 1995 e que acompanhou pessoas nascidas entre os distantes anos de 1890 e 1910, também revelou uma forte diferença entre os gêneros quando o assunto é longevidade: 85% das pessoas com 100 anos ou mais eram mulheres e apenas 15% homens.

¿ Os homens tendem a ser mais suscetíveis a doenças associadas à idade. Uma vez que as desenvolvem, morrem mais rápido. Já as mulheres, por outro lado, parecem lidar melhor com essas doenças. Desta forma, entre elas há uma proporção maior de indivíduos desabilitados, mas elas vivem mais ¿ avaliou Perls.

Os pesquisadores também procuraram deixar claro que ter uma genética favorável não deve servir de desculpa para relaxar e abandonar atitudes saudáveis, assim como não tê-la não deve ser encarada como a condenação a uma morte relativamente precoce.

Não jogue seu tênis de corrida fora

¿Estas previsões não são perfeitas e, embora possam ficar mais acuradas com um melhor conhecimento das variações do genoma humano, suas limitações confirmam que fatores ambientais, como estilo de vida, também contribuem de maneira importante na capacidade das pessoas de sobreviverem até idades avançadas¿, acrescentaram no estudo.

Portanto, não jogue fora ainda seu tênis de corrida nem desista de sua dieta, reforça Paola Sebastiani, também autora da pesquisa.

¿ A importância dos fatores ambientais na sobrevivência até uma idade avançada é ilustrada pelo fato de que a expectativa de vida média dos integrantes da Igreja Adventista do Sétimo Dia é de 88 anos. Estas pessoas, por exigências de sua religião, têm uma conduta benéfica à sua saúde, o que leva a um envelhecimento saudável ¿ diz.